Nem Tudo Está Perdido

 

Com dois anos de casada, em 1990, estava eu em Minnesota, Estados Unidos, com meu marido, o irmão dele, esposa e filho. Programamos um piquenique em família num dos deliciosos e aprazíveis parques da cidade. Ao chegarmos lá, havia umas pessoas poucos metros de onde estávamos, daí meu cunhado disse: “são amigos nossos, membros da nossa igreja.” Daí eu me levantei e disse: “Então vamos lá cumprimenta-los!” Ao que ele respondeu: “Não, não, eles estão num momento em família e não convém invadirmos a privacidade deles. Isso é algo muito respeitado aqui.”

Num antagonismo total a essa situação, outro dia assisti um vídeo, de um norte-americano que resolveu apontar coisas que ele aprendeu no Brasil. Algo que ele percebeu foi o quanto os brasileiros são relacionais e amigáveis, pois ele conhecia alguém na praia de manhã, por exemplo, e daqui a pouco a pessoa já o estava convidando para almoçar na casa dela e até pra se hospedar lá. Bom, creio que paulistanos não agiriam assim, mas cariocas e nordestinos, com certeza!

Com esses dois exemplos, dá pra gente perceber que para culturas distintas há reações distintas quando se fala de privacidade. Só que além de haver características diferentes em cada cultura, há também percepções e posturas que são bem individuais dentro de uma mesma cultura. E é exatamente sobre isso que eu quero falar um pouco.

Você já passou por uma situação em que sua vontade é de sumir? De ir pra Cochinchina? De ir pra lá de Bagdá? Bom, eu passei. Muitas vezes. Incontáveis. Aquela hora que você não quer ver ninguém, falar com ninguém, ir pra lugar nenhum (a não ser a Cochinchina ou alguns quilômetros depois de Bagdá). Pode haver mil razões pra isso: ou você tá na TPM, ou tá chateada com algo que aconteceu, ou teve um bate-boca com alguém, ou foi magoada por alguém… enfim, situações que te deixam profundamente necessitada de privacidade extrema.

Recentemente passei por isso. Eu estava meio pra baixo por causa de um problema de saúde que iria requerer de mim um longo tratamento. Daí tive uma reunião de trabalho que me deixou pior que uma pulga resfriada. Paralelamente, o dinheiro que tinha no banco não era suficiente para pagar todas as contas. Pra piorar, minha filha ficou doente e, justamente nessa fase meio cinzenta, recebi vários hóspedes em casa. Já viu né? Quase fui num site de viagem procurar uma passagem pra Cochinchina, ou uma para Pra lá de Bagdá. Claro que isso não aconteceu.

Na iminência dessa viagem com passagem só de ida, lembrei-me de uma garota. Ela era bem jovem, saudável, casada com um estrangeiro e tinha toda uma vida pela frente, entretanto de uma hora pra outra as coisas começaram a ficar bem complicadas pro lado dela. Primeiro, o marido morreu. Tão jovem ficou viúva, coitada, mas pelo menos ainda não tinha filhos, pois se os tivesse, seria mais complicado ainda.

Na sequência, o seu país entrou numa situação de calamidade pública. Não havia alimento suficiente para a população, que por essa razão começou a imigrar aos países vizinhos, a fim de fugir de tamanha privação e sofrimento. Bom, se eu fosse ela, penso que iria buscar a plaquinha apontando pra Cochinchina ou então pra lá de Bagdá, pois tudo que eu ia querer na vida era fugir, ficar sozinha, procurar um canto só pra mim, onde eu pudesse me sentar e lamentar por tanto infortúnio. Só que na verdade essa moça não estava totalmente sozinha, pois a mãe de seu marido, que também morava em seu país, estava lá com ela. Aliás, diferentemente do que costumamos ouvir por aí, essa nora até que se dava muito bem com sua sogra.

Após tomar pé da situação e verificar que ficar ali não seria uma boa opção, a jovem viúva decidiu fazer uma longa viagem com sua sogra, à terra natal de seu falecido marido. E foi ali que sua vida começou a mudar…

Sua sorte mudou completamente na nova terra! Ela conheceu um parente de sua sogra, que logo se afeiçoou a ela. Além disso, era uma pessoa de posses e poderia possibilitar a ambas uma vida segura e confortável. Como se isso não bastasse, o casal teve filhos e o bisneto deles se tornou um grande monarca! Foi o rei mais amado e mais famoso daquele país.

O que eu e você podemos aprender com tudo isso? Simples: na hora que as coisas estiverem difíceis, na hora que não houver nenhuma luz no horizonte, na hora que a fatalidade chegar a nossa porta, antes de radicalizarmos e entrarmos num avião rumo a uma terra distante, façamos uma pausa, avaliemos a situação e apuremos o nosso olhar. Certamente perceberemos que um alguém como aquela sogra estará bem perto de nós, e que não precisaremos ir tão longe assim… Não tão longe dali, às vezes bem mais perto que imaginamos, Deus mostrará o caminho para um lugar sobremodo excelente, cujas ruas principais têm nomes bem pitorescos: Recomeço, Nova Chance, Nem Tudo Está Perdido.

 

 

38 comentários sobre “Nem Tudo Está Perdido

  1. Apurar o nosso olhar para avaliar uma situação em que tudo conspira contra nós é muito difícil e, manter a calma pior ainda… contudo, conforme a Mônica se expressa muito bem neste texto, não é impossível, pois o nosso DEUS tem o controle de tudo! Ufa! ELE é FIEL!

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  2. Moniquinha!!!

    Realmente há diversas situações em que necessitamos sumir do mapa! Quanto mais “experiência”, mais dessas histórias pra contar!!

    Um dia bem, outro nem tanto! Faz parte! Mas… segurando nas mãos de Deus sempre!!

    Acredito piamente que há propósito pra isso!!

    Um abraço enorme pra vc!!

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  3. Excelente texto! Sim, eu também às vezes tenho vontade de pegar a ponte aérea pra Badgá. Ainda mais nos últimos dias. Mas tento ver o que posso aprender com tudo isso. O que Deus estaria me mostrando? Pra mim ficou claro: é hora de cuidar da minha mãe. Ela precisa do meu cuidado, da minha atenção, da minha conversa. É claro que a insegurança bate, pois é só dinheiro saindo da conta e nada entrando. Mas eu tenho uma certeza íntima de que Deus proverá, ainda que haja dias em que eu fique com medo do futuro próximo. Ele está comigo. Ele me guiará.

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  4. Cada vez que leio um texto seu, um testemunho de sua vida pessoal ou missionaria e compromisso com a palavra de Deus, fico ainda mais grata a Ele, porque em algum trecho da sua história tive a honra de escrever algumas linhas. Parabéns por esse belo exemplo de perseverança na fé.

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  5. Que texto mais lindo, pois renovou minha esperança em Cristo. Grandes são nossas lutas, mas obrigada Senhor, pois as suas misericórdias não têm fim, se renovam a cada manhã e em Ti está nossa esperança. Preciosas suas palavras. Bênção do Pai para o meu coração.

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  6. Que gostosa essa leitura. É verdade, as vezes queremos descobrir onde fica a Cochinchina pra irmos pra lá, e isso acontece sempre que tiramos o olhar do que é mais importante. Nem sempre encontramos do nosso lado alguém que realmente se importe com o que estamos passando.
    Obrigada por compartilhar conosco. Sou sempre edificada pelo que vc escreve.😘🤗

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  7. Aí bem na hora que eu quero ir pra lá de Bagdá, eis que surge no há Xia com um texto repleto de coisas que eu precisava parar pra pensar. Obrigado! Deus vem manifestando seu poder e amor através de vc na minha vida desde que entendo por gente!
    Amo vc preciosa!!

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  8. Amiga e irmã tão amada e preciosa, tão simples e profunda na expressão de suas ideias, não dando oportunidade aos leitores de escolherem se irão ler o texto todo ou não. Ficamos reféns…não enterre esse talento….sinto-me muito abençoada por suas narrrativas. Fico aguardando o livro autobiográfico. Grande abraço.

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