Não tenha pena

Faz tempo que não escrevo aqui no Blog. Talvez duas infecções por Covid, mais a Vitamina D que está baixa, mais a correria do dia a dia tenham contribuído pra isso. A partir de agora, eu gostaria de postar um texto por semana. Vamos ver se consigo.

Algumas pessoas ao meu redor estão passando por maus pedaços. D* lutando contra um câncer reincidente. R* acaba de ser operada por conta de um câncer no peritônio. M* colocando todas as suas forças e recursos para combater um câncer no pâncreas. Nossa… quanta luta. Em situações assim parece que as pessoas tiram, de algum lugar, forças que nem sabiam que tinham e continuam a caminhada.

Agora me diga: o que eu falo pra elas? O que você fala para amigos seus que estão em situações semelhantes?

“Lamento muito que esteja passando por isso”

“Força! Você vai vencer essa batalha!”

“Não desista! Enquanto houver vida, há esperança.”

“Vai ficar tudo bem, eu prometo.”

“Tenha fé, vai dar tudo certo.”

Será que acreditamos em palavras como essas? Será que só usamos frases assim para evitar um silêncio constrangedor? Será que dizemos palavras animadoras para ficarmos “bem na fita”?

Fato é que para onde olhamos vemos gente sofrendo! Citei três situações, mas há muitas outras em que pessoas que conheço estão padecendo, e sei que você também sabe de muitas.

Afinal de contas, qual deve ser a nossa postura?

Conheço uma pessoa, bem próxima, cujo pai estava seriamente doente e ela teve a oportunidade de visita-lo, para estar com ele uma última vez. Ela teve a chance de ir, mesmo morando longe dele, mas não foi. Três meses depois ele morreu. Por que será que ela não foi lá? Porque teve medo? Teve medo de vê-lo doente, acamado… medo da dor que sentiria por vê-lo assim? Cada um tem seus limites e sabe onde a corda aperta.

O ponto aqui é: o que podemos fazer em prol de quem sofre? O que eu posso fazer? O que você pode fazer? Difícil questão.

Eu assisto a propaganda de “Médicos sem Fronteiras” e me corta o coração ver crianças desnutridas e arfantes. Daí eles dizem que se eu der algumas dezenas de reais por mês, poderão fazer isto e aquilo.

Ouço uma amiga contar as lutas que têm passado e, além de ser um bom ouvido, posso dar alguns conselhos e sugestões. Posso escrever um bilhetinho pra ela! Enviar um pedaço de bolo, entregar um botão de rosa… enfim, algum mimo que demonstre que você a ama e se importa.

É isso mesmo? Esse meu envolvimento com a dor do outro é suficiente? Eu poderia fazer mais? O quê?

Não sou psicóloga e nem psicanalista. Não tenho capacidade de ver o futuro. Não fiz um curso de aconselhamento em situações de crise, nem tampouco sou um rabino, um monge ou um guru. Por outro lado, tenho olhos, ouvidos e uma boca que fala. Com meus olhos li que Deus falou para o profeta Jeremias “Eu é que sei os pensamentos que tenho a vosso respeito… pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais”. Com meus ouvidos escutei que “não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar”. Com a minha boca eu falo aos quatro ventos que temos a quem recorrer! Não estamos desamparados no sofrimento!

Certa feita, Jesus se viu cercado de gente por todo lado. Sobre essa ocasião em particular nos é dito: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor”.

Sabe a grande diferença entre compaixão e pena? Quando temos pena de alguém, ficamos incomodados até que nosso dedo role a tela para a próxima postagem. Mas quando sentimos compaixão, não conseguimos ficar parados. A gente vai lá e faz alguma coisa. Isso vai mudar o mundo? Certamente que não, mas tenha certeza que pode mudar completamente o mundo de alguém.

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