Tchau Pai, Tchau Mãe. E agora?

Na minha cabeça já tinha a cena montada: eu com óculos escuros, mochila nas costas e passagem nas mãos, pronta e totalmente preparada para enfrentar o mundo sozinha, meus pais acenando de longe e minha mãe com lágrimas nos olhos e, a essa altura, meu irmão já estaria longe soltando fogos de artifício de tanta felicidade.

Mas, não foi bem assim. No dia em que eu sai de casa meus pais me levaram de carro para São Paulo, e a última coisa que eu sentia era que estava pronta e preparada para qualquer coisa que não fosse o que já estava acostumada. As únicas coisas que aconteceram igual a minha fantasia foram a tristeza da minha mãe e a alegria do meu irmão. E foi assim que começou meu primeiro ano longe da minha família.

Meus primeiros meses em São Paulo foram sensacionais, porque tudo era novidade, a agitação da grande metrópole me deixou encantada, apesar de já ter morado lá quando mais nova, porém, naquela época as circunstâncias eram totalmente diferentes. Para quem tinha acabado de voltar da Guiné-Bissau, mudar-se a capital paulista era experimentar a mesma sensação do filme: Um Príncipe em Nova York, com a pequena diferença de que, provavelmente, você não é integrante de alguma família real. Mas, o tempo passou e aquilo tudo virou rotina, a ficha tinha caído e agora eu não podia mais, a qualquer hora, simplesmente ligar para o meu pai vir me buscar.

Muitas vezes temos a ideia de que sair do meio familiar em que vivemos a vida inteira será totalmente natural, que iremos alcançar a tão sonhada liberdade e as únicas pessoas que sentirão saudades serão nossos pais. Podemos até estar mais preparados devido a uma criação onde somos incentivados a ser independentes, porém, o início nunca será fácil.

No começo sentia falta de muitas coisas, do café que minha mãe preparava e até levava no meu quarto quando eu não tinha aula (e quando tinha também), de quando sentava na minha cama e nós conversávamos, dos conselhos do meu pai e como ele sempre estava presente para resolver qualquer problema que eu tivesse e, de quando eu sentava para ver um filme ou jogar com meu irmão. A ausência diária deles foi um grande impacto no início.

Mas, apesar dessa grande mudança na minha vida fui surpreendida pelo cuidado divino. O sentimento de surpresa não aconteceu por ser a minha primeira vez a experimentá-lo, pois o cuidado de Deus sempre esteve presente na minha vida mas, porque se expressou em uma proporção muito maior do que eu esperava.

Foram através de pessoas que Deus sabiamente colocou na minha vida que, o ano que tinha tudo para ser o mais solitário de todos, se tornou cheio de novas amizades. E de lugares que eu nem imaginava, como igreja, faculdade e até amigos dos meus pais que também se tornaram meus amigos, novas pessoas começaram a fazer parte na minha vida, cuidaram e se importaram comigo.

Desde cedo, sempre fui posta frente a grandes mudanças, assim como a maioria das pessoas, e muitas das vezes o caminho adiante parece estar completamente incerto. Somos acobertados por dúvidas acerca do futuro e não sabemos o que virá a seguir. Diante dessas situações devemos ser gratos por tudo que Deus já fez e irá fazer em nossas vidas, confiantes que ele continuará cuidando de nós. Mas isso nem sempre é fácil, pois devido a nossa natureza humana, a gratidão é um um sentimento que geralmente só aparece após algum acontecimento bom, mas é preciso que sejamos gratos mesmo antes de sermos agraciados com coisas boas, o que é só possível quando cremos num Deus poderoso e que se preocupa com todos os detalhes que dizem respeito a nós.

Agora, quando paro para pensar nesse ano que se finda, percebo que sair de casa e ficar longe de minha família não foi um trauma mas, sim, um passo para uma nova fase na minha vida cheia de aprendizados e de amigos, pelos quais, sou imensamente grata a Deus.

Fotografia: Steven Lewis on Unsplash

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