A leitura necessária de “Justiça Generosa”

Desde pequena eu tenho problemas com a injustiça. Lembro-me de algumas boas encrencas nas quais eu me meti pra defender oprimidos e indefesos e, até há pouco tempo, eu ainda sentia certo orgulho desse meu histórico. O coração se orgulha e faz o peito estufar quando os outros reconhecem em você uma característica que te destaca positivamente no meio de uma multidão egoísta. Mas quando comecei a ler “Justiça Generosa: a graça de Deus e a justiça social”, de Timothy Keller, é que me dei conta do quanto essa leitura é necessária a todos os cristãos, inclusive (ou principalmente)  aqueles como eu – de peito estufado e muito orgulho de si mesmos e dos seus feitos.

Em primeiro lugar por saber que o Pr. Tim, que vive em Manhattan (Nova Iorque) com a família, facilmente poderia ter sido levado pelo frenesi mágico da Big Apple. Frequentemente associamos Nova Iorque à badalada semana de moda, ao romântico Central Park, ao centro financeiro de Wall Street, às compras nas lojas mais bacanas e, agora em época de Natal, à linda e pomposa árvore do Rockfeller Center. Quem associa Nova Iorque à pobreza e injustiça social? Tim Keller poderia facilmente se isolar em sua bolha nova-iorquina, mas não só sai dela como nos leva a sairmos de nossas próprias bolhas e nos confronta com questões difíceis de serem respondidas…

…tal como quando Jesus escandalizou os judeus ao explicar quem era “o seu próximo” na parábola do Bom Samaritano. Intelectualmente, parece fácil responder essa questão, mas uma análise superficial já nos leva a perceber que, frequentemente, somos movidos a fazer o bem para aqueles que julgamos dignos de nossa bondade. Quem nos atribuiu o papel de juízes? Sob que autoridade exercemos tal papel? E o que nos motiva a tratarmos os desfavorecidos com compaixão e generosidade? É porque temos mais bens (recursos) e somos dotados de um alto padrão moral? É porque somos cidadãos conscientes e queremos construir uma sociedade mais justa e, assim, deixar um mundo melhor para nossos descendentes? Além das várias questões que o autor levanta ao longo do texto, eu ia levantando minhas próprias questões na esperança de que, em algum momento, a leitura se tornaria mais leve…

… então, me detive no relato do Pr. Tim, sobre quando ele e sua esposa foram confrontados pelo amigo e irmão na fé negro: “vocês são racistas”. Não vou contar o desfecho dessa conversa, mas compartilhar com vocês mais incômodos que, como poeira, se levantaram na minha cabeça e foram – e continuam sendo – remoídos. Num país com tanta miscigenação, como no Brasil, ainda nos indignamos muito pouco com o fato de termos uma cultura racista. O que eu posso fazer para quebrar esse círculo vicioso da cultura racista? Como posso criar meus filhos para que não sejam racistas, sem tratar de maneira tão superficial que “Deus não faz acepção de pessoas”?

E já que não dá pra esgotar esse assunto – ora, se Pr. Tim não o esgotou num livro que dirá eu com um post – continuo a ruminar, tal como os camelos fazem com seu alimento, a crucialidade da imago Dei (a imagem de Deus) em cada ser humano ao nosso redor. Quando você encara uma pessoa vivendo em miséria – quer você goste dela ou não, quer ela tenha um relacionamento com Deus ou não – a verdade é que essa pessoa foi criada “à imagem e semelhança de Deus” (v. 27) e devemos estender nossa mão para ajudá-la.

Apesar de intensa e desafiadora, a leitura do texto é bastante fácil e pragmática. Quem for tocado pelo Espírito Santo a sair de sua bolha, rapidamente vai saber como arregaçar as mangas e combater a injustiça social.

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