Quando eu e meu marido decidimos nos casar, começamos a buscar um lugar para chamar de nossa casinha. Apesar de termos vivido a maior parte de nossas vidas em casas, não tivemos dúvidas de que um apartamento era a opção ideal para nossa realidade. Não sabendo bem como funcionava a vida em condomínio, foi inevitável pensar em como seria a vida nova tendo os vizinhos perto – muito perto! Nunca fui uma pessoa de vida social agitada e tampouco de andar em galera, e isso se somava ao fato de que na época eu trabalhava fora e passava boa parte do tempo viajando. Na minha cabeça, era mais do que certo que eu seria a vizinha que ninguém sabe o nome e que não conhece ninguém.
Para complicar a minha chegada ao prédio novo, enquanto o apartamento ainda estava em obra, poucos meses antes do casamento, descobrimos um problema no encanamento do banheiro e, para resolve-lo, precisaríamos quebrar o banheiro do apartamento de baixo. Não foi nossa culpa: o problema havia sido causado pela construtora, mas demos o azar da bomba ter explodido na nossa mão, e não tivemos outra alternativa a não ser resolver. A vizinha de baixo cooperou conosco e montamos acampamento no apartamento dela para acompanhar o conserto que a construtora se propôs a fazer. Ela não criou caso e nem aceitou que pagássemos a limpeza pós-obra quando o reparo acabou, mas que cara tinha eu de tentar me entrosar com a vizinha?!
Enfim, mudamos para o prédio e, mais rápido do que eu pensava, a vida se transformou completamente: poucos meses depois do casamento, eu tirei um ano sabático, convenci meu marido a termos um cachorro e depois ele me convenceu de termos outro cachorro (status: estou batalhando pelo terceiro!). A vida que antes girava entre o escritório e o aeroporto passou a girar entre os passeios pelo quarteirão – para o xixizinho do Napoleon, e as idas à lavanderia do prédio, porque não tínhamos máquina de lavar em casa. Aliás, não tínhamos lavanderia, e essa tinha sido uma decisão proposital – “vamos usar a lavanderia do prédio até que a gente decida o que fazer com a área de serviço/varanda”. Pensei que essa já era uma oportunidade de conhecer e interagir com os vizinhos, mas, claro, não foi bem assim. Fato é que a lavanderia propiciou algumas conversas muito boas, mas também experiências muito desagradáveis (cheguei a ser agredida verbalmente por um vizinho cujo histórico de mal comportamento já era conhecido no prédio).
Diante dessas situações vocês talvez entendam um pouco da minha frustração, e podem então entender como fiquei feliz de encontrar o livro “The art of neighboring – Building genuine relationships right outside your door” (“A Arte da boa vizinhança – construindo relacionamentos genuínos bem em frente à sua porta”, em tradução livre) de Jay Pathak e Dave Runyon. Encontrei esse livro no bazar da minha igreja e, literalmente, devorei o conteúdo.
O livro traz a experiência de Jay e Dave que, junto com suas famílias, perceberam quão preciosos podem ser os relacionamentos com seus vizinhos, mas também sem falsas expectativas ou romantização, eles mostram como tais relacionamentos podem ser desafiadores. Os autores trazem questões interessantes como: a) Jesus disse que devemos “amar ao próximo” como a nós mesmos…” mas quem é o tal próximo? No Inglês, o trocadilho foi perfeito porque a palavra neighbor tanto pode ser entendida como “(meu) próximo” quanto como…. adivinhem só: VIZINHO! b) quais os motivos para buscar um relacionamento com meu vizinho? “Evangelização, é claro!”, você pode pensar. Mas não é bem assim… c) e se o seu vizinho for um folgado e quiser abusar de sua boa vontade? d) e se não houver reciprocidade? e) como estabelecer limites? f) o que devo dar/fazer para/pelo meu vizinho?
Você nunca tinha pensado nessas questões, certo? Nem eu! Por isso, se você lê em Inglês recomendo a leitura (infelizmente ainda não foi traduzido para o Português). Se alguma ‘karíssima’ leitora tiver recomendações de livros em Português sobre esse tema, compartilhe conosco na caixa de comentários.
(Crédito da imagem: divulgação)