Não tinha a intenção de escrever sobre o tema deste mês – “Sexualidade” – mas mudei de ideia ao me deparar com um tuíte de uma webcrente, solteira, expressando sua dificuldade de dissociar o sexo, no contexto do casamento, a uma prática cheia de vergonha e culpa. Ela deve ser popular, mas eu não a sigo e não a conhecia até esse dia – foi uma dessas @ que passam na nossa time line e depois somem. Decidi acompanhar o tuíte e ver onde essa conversa ia acabar; desisti, porém, ao perceber a enorme quantidade de respostas de outras irmãs solteiras compartilhando da mesma dificuldade e praticamente nenhuma luz que trouxesse alguma clareza para o assunto. Poderia eu ter sido de alguma ajuda? Talvez. Poderia eu ter causado ainda mais confusão? Também. O fato é que naquele momento eu dei ouvidos aos meus fartos cabelos brancos, que dizem com alguma frequência: a rede social nem sempre é o melhor lugar para tratar certos assuntos.
Antes de me casar, eu recebi a generosa oferta de uma amiga caso precisássemos de aconselhamento matrimonial. Também procuramos leituras pertinentes, como o excelente “O significado do casamento” do Pastor Timothy Keller, com comentários de sua esposa Kathy. Além disso, assistimos pregações e ouvimos sermões de bons pastores e teólogos. E, claro, fizemos o tal curso de noivos. Os fatos de não sermos já tão jovens, de termos estabilizadas as vidas pessoal e profissional, de virmos de famílias estruturadas e de, individualmente, termos um sólido relacionamento com Deus, ajudou muito nos primeiros passos do casamento, mas nos deparamos com questões sobre sexo que, com apenas uma exceção, nenhuma dessas ferramentas nos ajudou.
Existe um medo completamente desnecessário de usar a palavra “sexo”, “relação sexual” e “transa”, por exemplo, e uma tendência complicada ao uso de expressões populares que tem uma forte conotação pornográfica. É fato que há maneiras afetuosas de se referir aos momentos de intimidade e essas expressões funcionam quase como um código secreto, algo que só você e seu marido conhecem e pode significar o acender das chamas no meio da tarde para algo que vai se concretizar à noite, depois de um jantar romântico. Mas, acreditem, a pornografia é a pior referência possível para quem quer ter uma relação saudável com seu parceiro. A indústria pornográfica é uma indústria criminosa e por trás dela existe tráfico humano, violência, abuso infantil, tráfico de drogas e todos os desdobramentos nefastos dessas práticas.
Além disso, existe uma outra palavra que também provoca calafrios em muita gente: orgasmo. Ou clímax. Ou prazer sexual. Sobre o orgasmo, tenho uma história muito engraçada pra contar. Tenho uma amiga com quem, uns meses atrás, eu conversava sobre casamento. Quando foi falar sobre orgasmo, ela comentou: “eita menina, que gozar é um negócio difícil né?! Haja jejum e oração pra conseguir!”. Hahahahaha errado não está! Então vamos falar um pouco sobre essa palavrinha. Nem sempre é fácil, para as mulheres, atingir o orgasmo. Essa mesma amiga comentou que teve dificuldades no começo da vida sexual e através do livro “O ato conjugal” (Tim e Beverly La Haye) ela conseguiu entender seu corpo, do ponto de vista funcional, e isso foi essencial para desvendar o mecanismo do prazer. O orgasmo da mulher, na relação com seu marido, não é motivo para culpa nem vergonha e, por outro lado, sua ausência não deve ser encarada como natural. Quando Deus criou o ser humano, fez nosso corpo com pontos de sensibilidade distribuídos de acordo com a função exercida. Ou seja, não é por um acaso ou coincidência que nossa região genital seja sensível de uma maneira diferenciada. Se você tem problemas de saúde que afetam diretamente sua sensibilidade, converse com seu médico e busque a opinião de especialistas. Como portadora de uma doença rara (esclerose múltipla), posso recomendar os materiais da Amigos Múltiplos pela Esclerose, uma excelente fonte de informação para mim e para meu marido, que antes de mim não conhecia ninguém com a mesma doença.
Por fim, não sei bem como sugerir de outra forma que não seja a mais clara e direta possível: escolham com cautela o meio quando precisarem desabafar sobre as dificuldades do casamento em relação ao sexo. Assim como mencionei no começo do texto, as redes sociais podem servir pra gente ver que não estamos sozinhas nas nossas dificuldades – nossos problemas não são inéditos! – mas com bastante frequência elas trazem críticas à igreja, distorções do Evangelho e conselhos completamente antibíblicos, e isso pode ser mais danoso do que benéfico. Procure alguma mulher da sua igreja (ou não! Mas é importante que ela seja cristã) com quem você possa se abrir. Pode ser uma amiga? Pode – mas cuidado para que, dependendo do problema, sua amiga não seja tendenciosa em julgar seu marido e taxá-lo como culpado dos problemas que vocês estão vivendo. Costumo dizer que busco conselheiras que me amam, a ponto de me exortarem e me corrigirem com amor, mas não a ponto de serem bajuladoras que sempre me dão razão e tecem elogios exagerados. O ideal é que mesmo que você tenha tomado a iniciativa de buscar ajuda, seu marido se junte a você para que os dois, juntos, encontrem a solução para as dificuldades. Meu histórico de vida (lembram que eu tenho fartos cabelos brancos, né?!) diz que não é uma boa ideia desabafar e se aconselhar com alguém do sexo oposto; se seu conselheiro for um homem (seu Pastor, por exemplo), vá acompanhada do seu esposo (pastores experientes e de bom senso costumam engajar as esposas nesse tipo de situação).
Se você organiza cursos de noivos na igreja, encare essa tarefa com discernimento e sabedoria e não fuja de perguntas difíceis. “O casal pode se masturbar?”, “E se a mulher não gosta de sexo?”, “Devemos transar só para ter filhos?”, “Sexo oral é pecado?”. Infelizmente, muitas igrejas transformaram os cursos de noivos em verdadeiros processos burocráticos – “para que o Pastor celebre o casamento de vocês, é necessário se formar no curso de noivos”. Tem igreja que faz chamada. E anota falta. De verdade. Planejar um casamento já é difícil o suficiente, porque não transformar as aulas do domingo de madrugada em encontros informais e agradáveis num horário mais adequado para os noivos? Porque a aula não pode ser um bate-papo informal? Além disso, pense em quem são os instrutores. Eles, muitas vezes, são casais com pouca ou nenhuma conexão com os casais que estão diante deles; conheço o relato de um instrutor, ainda jovem, mas já casado há alguns anos, que aparentemente esqueceu que, anos antes, tinha feito bullying com um rapaz da igreja que – puxa vida! – agora, era o noivo a sua frente e o cumprimentou com um sorriso amarelo e um “nossa, quanto tempo!” bastante sem graça.
Existe uma responsabilidade que recai sobre nós, esposas, e se estende aos nossos maridos, de buscar ajuda e aconselhamento em fontes e referências cristãs sólidas e também compete à igreja criar oportunidades e propiciar um ambiente em que sexo possa ser discutido sem sombras nem eufemismos. Só assim nossas jovens terão uma chance de se livrar da culpa e da vergonha que atrelam ao sexo, antes mesmo de se casarem, e perceberão que existe sentido quando dizemos que “fazemos sexo com nossos maridos…para a Glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).
Glória a Deus! Por mais conversas abertas sobre sexo na igreja. Por mais ensino sólido também.
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Amém e amém! 😘
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Oh, glóriaaa!!!! 🙂
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Aleluia!!! 😘
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Excelente texto! Graças a Deus, tive uma mãe muito presente que sempre foi uma excelente influência e um marido muito amoroso que soube me conduzir muito bem no início.
Mas, infelizmente, vemos muitos casais cristãos sofrendo no começo por conta da falta de informação ou informação distorcida.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
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Que bom que tua experiência foi boa, Nana, graças a Deus! Obrigada pelo teu comentário! Um beijo e fique com Deus!
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