Muito além de caixas de chá

Semanas atrás recebi da minha vizinha Ana algumas caixas de chá como
presente. Esse ato singelo e gentil foi, para mim, uma grande demonstração de
carinho. Naquela semana eu me encontrava sozinha com os pequenos, pois meu
marido estava viajando a trabalho e comentei com ela que precisaria correr ao
mercado para comprar chá, pois para meus filhos é algo muito importante para
melhorar resfriados (tem um superefeito placebo, rs). Algumas horas depois lá
estava ela com as caixinhas de chá em minha porta.

Nos dias seguintes sempre que passava pela cozinha e olhava aquelas
caixinhas meu coração se aquecia, aos poucos minha mente foi sendo tomada por
inúmeras memórias de tantos outros atos de gentileza e de grande generosidade
com os quais venho sendo contemplada ao longo do meu ministério.

Quando se tem um ministério em um centro de treinamento de modalidade integral,
sua convivência com as pessoas a sua volta acaba sendo intensificada. Apesar de
morar no trabalho e estar cercada por ele, tem-se a oportunidade de firmar
laços e experimentar o amor de Deus através do corpo de Cristo de uma forma
extraordinária.  Os colegas de trabalho e seus alunos são seus vizinhos,
as pessoas mais próximas, aquelas com quem você pode contar.

Aquelas caixinhas de chá eram uma, dentre muitas formas de generosidade que
venho experimentando ao servir com um time na obra missionaria. Meus colegas
aos poucos se tornaram família. Eles expressam por completo o significado da
palavra generosidade descrita no dicionário: “virtude daquele que se dispõe a
sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem”.

A generosidade não se expressa apenas no compartilhar ou doar bens
materiais, vai muito além: é o tempo gasto ajudando, uma visita, uma oração,
chorar com os que choram e a lista poderia se estender por inúmeros atos de
doação, de disposição e de amor. Mas tais atos de amor ao próximo podem ser
sufocados pela rotina tão apertada em que vivemos atualmente. Temos sempre
tantas tarefas para realizar que não olhamos a nossa volta ou estamos cansados
demais para ouvir as dores do outro. É aí que entra a disposição ao sacrifício,
abrir mão dos nossos interesses, tirar os olhos das nossas dores e olhar para o nosso
próximo.

Ser alvo do amor e cuidado de Deus através dos meus irmãos em Cristo é um
grande privilégio e minha família tem experimentado desse amor. E isso tem
aquecido meu coração em dias conturbados e atribulados. Cada vez que um colega
levava ou buscava meus pequenos na escola; cada vez que alguém cuidava dos meus
filhos para que eu fosse ao médico; a colega que esteve em lugar de mãe nos
meus trabalhos de parto; as rodas de tereré ou chimarrão para aliviar o
cansaço; cada conselho, cada cafezinho… Esses atos acrescentam, fazem mover a
engrenagem da retribuição. Generosidade deve gerar generosidade, doação e amor.

Que não morra em mim, que a agitação da vida moderna não sufoque a
disposição de me doar, de me importar, porque enquanto sirvo posso refletir o
amor de Cristo, ora abençoando meus irmãos, ora sendo luz em um mundo sombrio.

A terceira estrofe do cântico 416 dos Hinos e Cânticos expressa o que espero
viver em 2020:

“Também eu desejo aos vizinhos mostrar

As tuas bondades e graça sem par,

Assim confessando o divino poder

Que Teu Evangelho no mundo há de ter.”

Por mais “caixinhas de chá” em 2020, para aquecer a comunhão, exalar o amor
de Cristo e fazer girar as engrenagens enferrujadas de um mundo cada vez mais
individualista.

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10 comentários sobre “Muito além de caixas de chá

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