O filme “Logan” de 2017, estrelado Hugh Jackman e Patrick Stewart, mexeu bastante com meus sentimentos. Apesar de serem meus queridos super-heróis, vê-los naquelas condições me causou um aperto na garganta. No filme temos Wolverine bem mais velho, vulnerável, cheio de marcas e com pouca capacidade de regeneração. Sob seus cuidados, encontramos o professor Xavier idoso, senil com algumas lembranças do seu tão magnífico passado que já não mais existe. Seus amigos já se foram e o que sobrou é muito pouco. Acho que esse filme me causou comoção por estar diante da humanidade dos dois. Nessa altura que estou da vida, já percebi que os super-heróis envelhecem, e céus, como é difícil aceitarmos isso.
Mês passado perdi uma tia e um tio. Os dois se foram em um intervalo de apenas 6 dias. Meu tio com um infarto fulminante e a minha tia por conta de um enfisema pulmonar. Ainda está passando um flash-back na minha cabeça e sempre quando lembro dos dois me vem na mente a imagem deles de quando eu era criança. Quando ambos eram mais jovens. Acho que vamos sempre tentar preservar a imagem da juventude, seja nossa, seja dos outros. A última vez que conversei pessoalmente com meu tio ele comentou que gostaria de voltar a ter seus 30 anos. Não se conformava em ter envelhecido, isso o incomodava. Parece que é uma luta já ganha. O tempo será sempre o campeão e a derrota é difícil ser digerida.
O tempo limita algumas ambições. Coisas simples que outrora seriam moleza, passam a não ser. Esse é o percurso daqueles que são agraciados com mais anos de vida. Uma bênção por mais uma porção e, ao mesmo tempo, a maldição do pecado que nos dá um corpo corruptível “phthartos”.
Assim como no filme já citado, vamos ficando semelhantes ao Logan e ao Professor Xavier, por mais que tenhamos sido “super-heróis”. A regeneração diminui, a senilidade pode aparecer e a dependência para com os demais aumenta. Isso assusta!
Ao mesmo tempo, tenho observado meus pais. Ambos foram jovens aventureiros, corajosos e destemidos. O coração deles continua o mesmo, entretanto estão com algumas limitações. Mas assim como G.K. Chesterton diz:
Um homem não envelhece sem se aborrecer; mas eu envelheci sem ficar entediado. A existência ainda é algo alheio a mim; e como estrangeiro, dou-lhe as boas-vindas.
Tenho observado que ambos têm dado boas-vindas ao passar do tempo. Claro que há dias em que não são tão “boas”, e os vejo aborrecidos. Mas eles têm desfrutado de amizades que estão mais sólidas, têm colhido sabedoria que o tempo lhes concedeu, têm se deleitado com a família que aumentou e, principalmente, o convívio com Deus ficou mais forte.
Eles podem achar que não, mas a cada ano que completam estão se tornando mais e mais um pouco de Hebreus 12.12, o testemunho dos santos, daqueles que podem dizer em vida ou em morte para perseverarmos até o fim, pela graça de Deus, por Cristo Jesus que também perseverou. É através dEle que podemos perseverar.
Isso tem servido de bálsamo em minha vida. Não sei se chegarei até uma idade avançada, mas se chegar espero muito olhar não só para meus pais e para todos os meus irmãos que viveram bastante tempo aqui, e que foram fiéis até o fim. Gente que creu que esse corpo corruptível pelo pecado ficará aqui, mas que, assim como Cristo, ressurgiremos com um corpo incorruptível “aphtharsia”.
Espero então que eu receba bem todos os anos que estiver por aqui. Se um dia chegar na idade de canseira e enfado, mencionada no Salmo 90, que eu possa dizer como o outro Salmista:
Agora que estou velho, de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus, para que eu possa falar da tua força aos nossos filhos, e do teu poder às futuras gerações.
Salmo 71.18
Nunca tinha refletido sobre Hebreus 12.12 dessa forma. Muito bom focar no que se tem ganhado, e ter pessoas amadas para superar o que se perdeu…
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