Era noite, céu escuro, em um deserto, uma tenda, uma mulher e duas crianças deitados na cama. A tenda sacudia com o vento forte que zumbia estridente. O cachorro latia persistentemente e a cada latido o medo crescia. O marido viajava. Ela estava sozinha. Naquela mesma semana coisas no quintal haviam sido roubadas, agora escutava um barulho estrondoso, era alguém batendo no portão de lata, tão forte quanto o pulsar do coração assustado com aquela situação. Sair para atender ou deixar bater?
Foi quando ouviu uma voz lhe dizer:
“- Pra que tanta insegurança, não se lembra quando era criança? era você quem descia as escadas da casa para buscar água para sua mãe, morrendo de medo, assustada pegava o copo de água, dedos tremendo com um toque rápido no interruptor, desligava as luzes e subia correndo sem olhar para trás. Naquele sobrado que para sua imaginação de criança era mal assombrado. Entre suas irmãs você tinha fama de corajosa, então era você que tinha de ir, na verdade você era tão medrosa quanto, mas não deixava o medo te impedir.
E quando uma barata resolvia aparecer, era sempre você a pegar o chinelo, rezando para ela não levantar vôo, com muito nojo a acertava em uma só tacada e depois limpava, lá se foi aquela barata danada. Mas se perguntassem: – tem medo de barata? você responderia: – tenho sim.
E quando na adolescência voltava da aula as 11 da noite, andando pelas ruas vazias olhando para um lado e para o outro, passos apressados, coração acelerado, contando os minutos para abrir o portão e tranca-lo rapidamente, torcendo para não encontrar ninguém mal intencionado. Ah o portão! trancá-lo durante a noite também era sempre um desafio, virava as chaves correndo com medo de alguém empurrá-la pra dentro e entrar em sua casa e ser assaltada. Todo este medo tinha a ver com o seu pai que já não estava mais lá para te proteger. Essa era razão do seu real medo, o medo de perder.
E quando já estava um pouco mais madura, ao escutar a voz do seu pretendente dizer : “- Casa comigo? quero casar com você” . Estavam no metrô, pertinho das catracas, de lá mesmo ouvia o barulho estridente dos trilhos e do vento forte soprando no seu rosto, compondo uma musica de terror em sua mente. Como assim casar de repente? Ainda traumatizada com a separação de seus pais, acreditar neste romance seria o mesmo que atravessar aqueles trilhos do metrô com os olhos vendados. Era esse o medo que sentia, escuro de uma nova vida desconhecida que ele te propunha. Mas disse que sim, porque esta mesma voz que ouve agora, ouvira naquela hora.
E quando após casada recebe a noticia do primeiro bebê, fecha os olhos e diz pra si mesma, este não posso conceber. Não sou capaz, tenho medo, não quero mais. Nossa esse era o medo de ser mãe. Se sentia uma criança, como agora poderia ser responsável por outra? era muita insegurança. E ainda no parto vários problemas ocorreram, quando a viu naquela UTI de cabelinho raspado, o medo tomou conta de tal forma que o que viu foi escuridão novamente. Naquele corredor frio de hospital, viu a morte que estava somente na sua mente, a menina estava bem, você quem estava doente. Doente de medo e insegurança no seu coração. Medo da morte, o medo que todos passam, as vezes despercebido”.
E aquela voz encerrou dizendo : “- Um dos seus maiores medos, alguns anos atrás quando me ouviu falar com você para sair do seu país e ir para uma terra distante, essa onde você está agora, no meio deste deserto poeirento, nesta tenda sozinha, te revela o mesmo e único medo que sempre sentiu em todas estas horas, desde sua infância até agora; o medo de se sentir desprotegida diante do assustador descontrole que tem da vida. E isto que quero que perca agora, porque Sou Eu quem sempre protegi e protegerei você. Eu Sou aquela força que te impulsionava a vencer, aquela certeza que tinha dentro de você, te trazendo coragem mesmo sem você me conhecer, todos aqueles medos você não ultrapassou? Todos outros que virão ultrapassará também. Porque somente Eu tenho o controle da vida e a você cabe enxergar a coragem que lhe dei e desmascarar este medo que as vezes te detêm.”
Já não se ouvia mais barulhos no portão, nem tão pouco do vento, a tenda se aquietou, as crianças já haviam dormido e a mulher sorriu depois de tudo que ouviu.
Fotografia: Patrick Schneider on Unsplash
Deus seja louvado sempre,através de sua vida…Juliana…mulher serva guerreira do Pai!
Que o Espirito Santo esteja te dando paz nessas terras distantes…Sinta se abraçada por mim,te amamos em Jesus Cristo,mulher corajosa de Deus…beijinhos!
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Lindo texto, tão real e verdadeiro. Obrigada por compartilhar, querida. Deus a abençoe poderosamente, todos os dias da sua vida, junto com essa família linda e preciosa, que Deus te deu. Abraço com carinho.
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AGORA, SIM!
VC escreve mto bem!
Através desse espaço vc pode Abençoar mais pessoas com esse talento que o SENHOR TE deu!
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Ju, esse texto me abraçou em vários momentos…estou passando por um momento de medos e saiba que foi um abraço de Deus poder ler suas palavras.
Que Deus continue usando todos os dias a vida de vocês.
Vcs são uma grande inspiração como casal e cristãos paea mim e meu marido.
Grande abraço.
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Que lindo! Me identifiquei em mtos momentos do texto! Que Deus continue abençoando sua vida, família e ministério, Juli, e sempre te enchendo de coragem e confiança nEle.
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É o medo pode nos assustar ou ser usado como uma alavanca para fazer a vontade do Pai Celestial! Muito bom sua história!
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