Não feche a porta

Quantos encontros e reencontros marcam nossas histórias, não é mesmo? Alguns são realmente extraordinários, como quando nos encontramos com Cristo. Alguns trazem um brilho ao olhar e um sorriso ao rosto quando são lembrados, como quando nos encontramos com o amor da nossa vida, ou recebemos um filho em nossos braços na maternidade.

Outros encontros são bastante marcantes, mas não tão agradáveis assim, nos trazem lembranças embaraçosas e até desagradáveis. Certa vez li o seguinte: “A gente não encontra ninguém nessa vida por acaso. Cada pessoa é um teste, uma lição ou um presente.” Achei interessante, mas não concordo 100%. Também não acredito em acaso, mas não gosto da ideia de categorizar as pessoas que passam por nossas vidas. E tenho aprendido que muitas vezes por falta de maturidade acabei tendo tal atitude.

Quando tinha 19 anos tive um encontro marcante, daqueles que eu chamaria de surpreendente. Lá estava eu com quase 3 anos de convertida, me preparando para ingressar no seminário (escola bíblica) e me deparo com a visita de um irmão que eu nem sabia que tinha.

Minha história quase daria um dramalhão mexicano. Só como pano de fundo: meus pais se divorciaram quando eu tinha seis meses, meu pai se mudou e nunca voltou para visitas e coisas assim. Como era de se esperar, passei os primeiros anos de minha infância com a esperança de que meu pai apareceria no fim de cada ano, para comemorar comigo meu aniversário (que é em dezembro) e o natal. Com o tempo tal expectativa se tornou ódio e a esperança acabou, restando apenas amargura e ressentimento. Mas aos 16 anos conheci a Cristo e acreditava estar livre de tais sentimentos… até aquele dia.

Quando me deparei com aquele homem, uns quinze anos mais velho com esposa e filhos na porta da minha casa, fui tomada por um misto de emoções e escolhi a pior maneira de me portar. Me comportei como Noemi, que por causa de todas as perdas pelas quais tinha passado perdeu a sensibilidade de olhar para a dor de suas noras. É exatamente essa, a atitude de Noemi quando diz para duas viúvas que também estavam sofrendo: “Para mim é mais amargo do que para vocês, pois a mão do Senhor voltou-se contra mim.” (Rute 1:13b)

Você já teve o desejo de voltar no tempo para “concertar” as coisas? É o que sinto hoje quando olho para esse encontro, além de um grande pesar. Eu me encontrava tão centrada no meu sofrimento, no meu abandono, na minha dor amarga que não dei atenção ao meu irmão que procurou por mim, que saiu de sua cidade com sua esposa e seus filhinhos, que eram meus sobrinhos. A amargura me impediu de perceber a dor dele, que também tinha sido abandonado pelo nosso pai (que aparentemente tinha um sério problema com responsabilidade paterna), que perdera a mãe na adolescência… ele também tinha marcas.

Com toda minha insensibilidade troquei algumas palavras com eles, os levei para conhecer a cidade e lá se foram de volta para sua casa. Deixei-os ir sem esboçar nenhuma reação além do pensamento patético: “que povo maluco por aparecer assim do nada”. Fechei uma porta que deveria estar aberta para uma linda caminhada.

Depois de um tempo eles se mudaram de cidade e perdemos o contato. E hoje sem o mesmo olhar amargo e imaturo de antes anseio por uma chance de reencontrar meu irmão Ademar, rever meus sobrinhos e apresentar-lhes seus priminhos.

Não podemos voltar no tempo para acertar as coisas, então tome cuidado com aquilo que vem guardando em seu coração.  Perdoe, arranque toda raiz de amargura de sua vida e livre-se do ódio. Deixe Deus curar suas feridas. A amargura pode te impelir a fechar portas que você não tem o poder de abrir novamente.

Fotografia: Pixabay

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s