“As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”, já dizia o famoso poeta. Aquele que escreveu poesias e músicas maravilhosas, que ainda faz muita gente suspirar. Tão amante das mulheres que se casou nove vezes.
Crescemos seduzidos pela ideia de que precisamos ser lindos e desejamos alguém lindo para amar. As princesas são lindas, as Barbies são lindas, as apresentadoras infantis são lindas também. Todas de pele aveludada, nenhuma espinha ou ruga, nariz afilado e voz angelical. “Ai, se eu fosse como ela!”, suspiramos. Lembra da época da Xuxa? Todo mundo queria ser loira, de olhos claros e usar shortinho com bota de cano longo. Chorávamos por qualquer espinha que aparecesse na ponta do nariz ou uma franja que insistia em enrolar ao invés de ser lisa e esvoaçante, como nos comerciais de TV (eu que o diga!).
Passeando pelo Netflix esses dias, procurando alguma coisa nova pra assistir, me deparei com uma série que estampava a foto de uma mulher com o rosto deformado, parecia muito aquele homem que ficava trancado no porão, do filme “Os Goonies”, tenho certeza que vocês já o assistiram na Sessão da Tarde. A série é na verdade um reality, que acompanha a vida de pessoas que tem alguma deformidade física ou mental e se inscrevem em agências de namoro a fim de encontrar um par. Me pareceu uma coisa meio bizarra, mas resolvi assistir pra ver no que ia dar.
Que maravilhosa surpresa!!!! A série, The Undateables (significa alguma coisa como “os inamoráveis”, numa tradução express aqui!) se revelou super sensível e tocante. Mostra o nosso desejo humano mais primitivo: o desejo de amar e ser amado. Me chamou a atenção um rapaz com uma deformidade no rosto causada por um tumor benigno que disse à moça da agência, que cadastrava seu perfil: “quero ser o presente de Natal de alguém!” Olha que coisa mais linda? Que autoestima mais rica e invejável! Ele não disse: “Ai, coitado de mim! Sou feio mas espero que alguém me dê uma chance!” Não!!! Ele sabia de seu valor, sabia que seria um bom namorado e a pessoa que o tivesse teria grande sorte, por isso seria um belo presente para alguém. Eu me apaixonei pela série (já assisti toda a temporada e estou esperando a próxima) e poderia ficar aqui horas e horas falando sobre ela. Mas o que quero dizer é que isso me fez pensar muito sobre o amor, sobre o que é mesmo o amor.
É claro que todos nós gostamos da beleza. Seja nas pessoas ou nas coisas, a beleza nos chama a atenção, nos atrai, nos encanta. Queremos ser bonitos também. Jamais ouvi alguém reclamar: “Ai! Como eu queria ser menos bonito!!!” Mas será que precisamos dar tanto valor a ela? Será que vale a pena se desgastar, gastar e investir nela em detrimento de outras coisas? Será que uma pessoa é menos valorosa porque é feia? Ou mais importante por ser bonita?
A beleza (ou feiura) está em nós desde que nascemos. Você não fez nada de bom para merecer ser bonito, nem nada de errado para merecer ser feio. Foi Deus que escolheu por você. Já nasceu assim e pronto. Ou seja, não é mérito nem demérito de ninguém. Outra coisa: ela é subjetiva. O mesmo homem que eu posso achar lindo, um gato, a minha amiga pode achar feio, horroroso, sem encanto nenhum. Não é uma verdade absoluta. Mais uma coisa: a Bíblia nos diz que ela é passageira, vã e enganosa. Isso sim é uma verdade absoluta: toda beleza vai passar e acabar. E o que é que fica? O que realmente importa?
Nunca se investiu tanto em beleza e aparência, porém nunca houve tanto divórcio e casamentos que acabam cada vez mais cedo, ao menor sinal de conflito. As pessoas não querem sofrer, pagar o preço, investir na relação. “Se não estiver bom pra mim eu pulo fora!” Não estou dizendo aqui que você case para ser infeliz e que tem que suportar todo tipo de sofrimento porque casamento é pra sempre. Mas vale a pena focar no que é importante, amar de corpo e alma, se doar e se dedicar à construção o seu relacionamento. Casamento é obra de Deus. E ele não errou quando uniu um homem e uma mulher; muito menos os abandonou para enfrentarem a barra sozinhos.
Se beleza fosse garantia de sucesso em um relacionamento, que problemas graves poderiam ter aquele casal com corpos esculturais e guarda-roupas invejáveis?
É aí que a gente entende que o que a Bíblia diz é verdade (como sempre). Essas coisas não são essenciais e o amor, amor de verdade não está nisso. Amar é ser suporte um do outro, é se importar, é muitas vezes abrir mão de suas vontades pelo bem do outro, é perdoar mesmo aquilo de que você queria se vingar. Amar é cuidar dela, ficar ao lado dela mesmo quando ela tiver uma doença que não a deixe mais tão atraente ou até mesmo que impossibilite o relacionamento sexual do casal. Porque amor é parceria, é união, é construir uma família e família nunca abandona, família cuida um do outro e está junto para o que der e vier.
Quando amamos, amamos não só o que está por fora, mas principalmente o que está por dentro, aquilo que a pessoa realmente é. Quem já ouviu alguém comentando: “Não sei o que essa mulher bonita viu nesse homem feio!!!”??? E o que muitos não entendem é que ela o ama pela forma como ele a faz se sentir, pela forma como ele a trata, como a valoriza. Ao lado dele ela se sente uma rainha. E isso, beleza nenhuma pode substituir. O amor só sobrevive se tiver respeito, admiração, fidelidade, reciprocidade e tantas outras coisas mais. E tudo isso são qualidades da alma e não do físico.
Precisamos aprender a valorizar as coisas essenciais e a olhar as pessoas com outros olhos. Tanto nos relacionamentos amorosos como em todos os relacionamentos que surgem pelo caminho. Lembre-se de Samuel quando foi ungir um rei para Israel: “O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração.” I Sm 16:7. E por que o Senhor se importa com o que ele vê no coração? Porque ele sabe que isso sim é o mais importante, é o que nós somos de verdade. Quantas de nós amargamos decepções por não conhecer bem a pessoa a qual escolhemos para nos relacionar? Quantos julgamentos apressados fizemos por aparência, não é? E como será que estou cuidando da minha essência? Quanto tempo estou investindo em melhorar quem eu sou? Como estou cuidando dos meus relacionamentos e das pessoas que amo?
Desejo que sejamos o mais belas que pudermos ser. Que tenhamos muita autoestima e que tenhamos prazer em nos cuidar. Desejo que possamos meditar nisso e nos esforçar para refletir a beleza do caráter de Cristo em nós, influenciando pessoas e glorificando ao nosso Criador, aquele que te fez, do jeitinho que você é.
Foto: filme the goonies IMDB
Como sempre, gostei muito.
Parabéns Bia.
Que Deus continue te abençoando e iluminando sua mente.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Muito obrigada, Cléo!!! Beijo!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Amei o que você escreveu, destaco o que você falou sobre beleza e feiura.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Obrigada! 😉
CurtirCurtido por 1 pessoa
Não conhecia essa série, Bia… ah, e essa coisa da beleza é tão, mas tão subjetiva mesmo, que fiquei me lembrando aqui daquelas mulheres em algum país da África, que colocam dezenas de “anéis” no pescoço para os alongar… quanto mais longo o pescoço, mais linda ela é considerada pelo seu povo.
CurtirCurtir