O assunto do momento

No mês passado, espantou-me ver que a entrevista do Juiz Sérgio Moro ao programa Roda Viva, da TV Cultura, chegou aos trending topics (assuntos mais comentados) do twitter mundial. Seja para criticá-lo ou para apoiá-lo, o fato é que os brasileiros ligaram a TV ou se conectaram ao YouTube para acompanhar a entrevista com o principal magistrado da Operação Lava Jato. O juiz tornou-se uma celebridade e todo mundo estava curioso para saber o que ele tinha a dizer. A curiosidade não é para menos: nunca o Brasil teve uma investigação tão ostensiva contra casos de corrupção envolvendo políticos brasileiros.

Uma das perguntas que me chamou a atenção no decorrer da entrevista foi se o povo brasileiro é mais corrupto do que outros povos. Em princípio, essa questão pode nos soar ofensiva mas, por outro lado, nós brasileiros sabemos bem o significado da expressão “jeitinho brasileiro” e, mesmo que seja a contra gosto, temos que admitir que em território tupiniquim o tal jeitinho frequentemente se aplica a algo inapropriado ou até mesmo ilegal. Gambiarra para puxar energia elétrica ou TV a cabo e não pagar a conta? Temos. Um troquinho para o guarda de trânsito fazer vista grossa a alguma violação ao volante? Também temos. Favorecimento de empresas em transações de negócios mediante presentinhos? Sim. Sonegar impostos sob a desculpa de que não vemos o retorno do dinheiro que pagamos ao governo? Infelizmente, também temos.

Trabalhei como auditora de empresas por mais de dez anos e boa parte do meu trabalho consistia em apurar denúncias e investigar esquemas de fraude e corrupção nas empresas. Nenhum desses projetos chegou a ser bilionário, como o esquema investigado pela Lava Jato, mas todos eram igualmente repugnantes e motivados por uma ganância desmedida. Curioso é que a maioria das pessoas entrevistadas durante as investigações condenava avidamente as práticas corruptas de Brasília, como se a corrupção só existisse no meio político.

Costumo brincar que se não houvesse corrupção meu trabalho cairia pela metade e eu teria bem menos oportunidades de emprego. De fato, quando lemos a Bíblia no Velho Testamento, vemos que a corrupção é antiga e as referências ao suborno, uma das principais práticas corruptas, deixam claro o que Deus pensa a respeito do assunto: “Não pervertam a justiça nem mostrem parcialidade. Não aceitem suborno, pois o suborno cega até os sábios e prejudica a causa dos justos.” (Deuterônomio 16:19 NVI).  Lemos em Atos, quando o encarcerado apóstolo Paulo  apresentou-se a Félix, que era uma espécie de governador dos Romanos na região de Cesaréia, que este “(…) esperava que Paulo lhe oferecesse algum dinheiro, pelo que mandava buscá-lo freqüentemente (…)” (Atos 24:26 NVI).

Penso que a corrupção tem a mesma medida do pecado, ou seja, nenhuma. Assim como não existe pecadão ou pecadinho, não existe corrupção grande ou pequena. Existem sim esquemas de corrupção mais complexos e menos complexos, assim como as quantias podem variar em valor e em moeda. Mas uma propina de cinquenta reais ao guarda de trânsito é corrupção tanto quanto o esquema milionário de super faturamento de contratos.

E o que nós podemos fazer?

Em primeiro lugar, não amoldados segundo os padrões desse mundo e transformados pela renovação da nossa mente, não devemos jamais tomar parte em qualquer prática corrupta: “Não siga pela vereda dos ímpios nem ande no caminho dos maus. Evite-o, não passe por ele; afaste-se e não se detenha.”(Provérbios 4:14,15 NVI).

Saibamos que permanecer firme em nossos princípios bíblicos pode ter implicações: financeiras (pode nos custar mais caro), profissionais (podemos sofrer retaliações no ambiente de trabalho), emocionais e psicológicas (seremos taxados de trouxa) e sociais (seremos colocados de lado). Contudo, a Palavra de Deus nos encoraja a não seguirmos pelo caminho mau: “Meu filho, se os maus tentarem seduzi-lo, não ceda! (…) Meu filho, não vá pela vereda dessa gente! Afaste os pés do caminho que eles seguem, (…) Tal é o caminho de todos os gananciosos; quem assim procede se destrói.” (Provérbios 1: 10,15,19 NVI).

Se for o caso de você já ter passado da fase de flerte e se entregado à corrupção, a Bíblia também propõe uma saída: que você abandone esse caminho e volte-se para Ele que, misericordioso, lhe perdoará. (Isaías 55:7).

Outras sugestões que posso dar, como auditora, são: se você tem conhecimento de práticas de corrupção em seu trabalho, procure os canais de ética para denunciar tais práticas; normalmente esses canais garantem o anonimato do denunciante o que torna a situação mais confortável. Com relação aos negócios, seja honesto em suas transações seja você um empreendedor, um executivo ou um funcionário.  Em relação aos impostos, pague-os; Jesus nos mandou dar “a Cesar o que é de Cesar” (Mateus 22:21) e não “pague seus impostos se seu governo aplicá-los corretamente em saúde, educação e segurança”. Não use de artifícios ilícitos para sonegar tributos.

Sejamos honestos em tudo que fizermos. Isso possivelmente implicará em não levarmos vantagem – e levar vantagem também tem um apelo muito forte no nosso país. Isso me lembra uma experiência recente que eu e meu marido vivemos durante as férias. Ao pegarmos nossas malas no carrossel, percebemos que a rodinha de uma das malas havia sido quebrada durante o manuseio pelos funcionários da cia aérea. Fomos até o escritório da empresa, onde deveríamos registrar uma queixa de dano para sermos reembolsados pelo estrago. Quando perguntado pelo valor da mala, meu marido informou XXX dinheiros, que foi o preço pago quando ele comprou o conjunto das malas. No meio do preenchimento do formulário, entretanto, me dei conta de que somente uma mala havia sofrido o dano e as demais estavam intactas. Não poderíamos pedir o reembolso por todo o conjunto, isso não era o certo e meu marido concordou. Pedimos ao funcionário que voltasse ao campo de valores e ajustasse  para XX dinheiros, que era o valor equivalente à mala que havia sido danificada. No final das contas, não fomos ressarcidos por falha da empresa aérea, deixamos pra lá e arcamos com o conserto da mala (lembram que no texto do mês passado eu mencionei uma mala que mandamos para o conserto? Pois é a mesma mala!). Mas sabe o que ganhamos do funcionário da empresa que registrou nossa queixa? “Muito obrigado por sua honestidade”.

Nossas últimas férias nos renderam outros episódios em que fomos confrontados com pequenos testes de honestidade. Em alguns monumentos, a administração não permitia que os turistas tirassem fotos. Contudo, se pagassem alguma gorjeta aos guardas de plantão, as fotos poderiam ser tiradas sem criar caso. Eu não tive dúvida: “se não é permitido não vamos tirar fotos”.  “Não, mas veja bem, é só um troquinho e só algumas fotinhos, não é nada demais. Todos os turistas fazem isso“. Eu e meu marido fomos irredutíveis – não pagamos propina (sim, isso se chama propina) e não tiramos as fotos. Entramos, olhamos o monumento e saímos, provavelmente, com a alcunha de trouxas.

A corrupção é um fenômeno que atinge todas as culturas e classes sociais e aparentemente está se tornando algo normal e frequentemente justificada por argumentos vazios. Nós, cristãos, sabendo o que Deus pensa a respeito da corrupção, temos o dever e a responsabilidade de sermos diferentes. Corrupção é pecado e devemos combatê-lo como a todos os demais pecados que desagradam a Deus e nos separam dEle.

Fotografia: Sharon McCutcheon on Unsplash

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