Quem é o meu próximo?

Minha avó foi uma das pessoas que mais me ensinou sobre hospitalidade. Ela era daquelas senhorinhas que os vizinhos sempre batiam à porta pra pedir oração, ou pra ver se ela podia colocar a “junta” no lugar, era uma parteira de mãos cheias e sempre tinham gravidinhas em nossa casa para ela “pegar a barriga”.  Lembro de muitas vezes em que ela já havia se recolhido e estava deitada na rede pronta pra dormir, mas levantava e ajudava a quem quer que fosse. Ninguém saía da casa dela sem um pouco de comida, atenção e uma palavra de encorajamento. Por muitos anos ela trabalhou como voluntária na penitenciária da nossa cidade. Os presos a chamavam de “mãe”, ela tinha um amor tão lindo por aquelas pessoas, era impressionante.

Não posso dizer que estou no mesmo nível dela, estou bem longe disso na verdade, mas sem dúvida herdei um pouco desse coração que ela tinha. Eu amo receber pessoas, gosto do preparo, de arrumar o quarto, de planejar os passeios, de comprar a comida, sinto uma alegria muito grande em fazer esse tipo de coisa. Mas tudo isso são coisas dentro da minha zona de conforto. O que fazer quando não é tão cômodo, tão agradável, tão desejável ajudar outras pessoas?

A Bíblia narra (no livro de Lucas, capítulo 10) uma história muito famosa sobre um bom samaritano. Jesus conta que um certo homem estava viajando entre duas cidades (Jerusalém e Jericó), no caminho foi interceptado por bandidos e brutalmente atacado.  Jesus então introduz os outros três personagens dessa parábola: um sacerdote, um levita (os dois eram religiosos da época) e um samaritano (um homem nascido na cidade de Samaria, que era considerado inimigo do povo de Israel). O sacerdote e o levita estavam voltando de Jerusalém, o que nos leva a pensar que eles possivelmente estavam retornando de um culto a Deus. Por questões religiosas, se eles tocassem em coisa morta eram considerados cerimonialmente impuros, por isso imagino que eles devem ter pensado que não valeria à pena deixar de servir em suas funções religiosas para ajudar àquele pobre homem. Ambos, ao observarem o homem caído na estrada e semi-morto, passam de largo e não o ajudam . Em seguida Jesus fala de um terceiro homem, um samaritano, considerado inferior pelo povo de Israel, que passa por ali, e ao ver o outro homem sente profunda compaixão dele. Esse samaritano cuidou de suas feridas, colocou-o em seu jumento e levou-o até uma hospedaria, onde pagou pela hospedagem e o que mais fosse necessário para cuidar daquele pobre homem ferido.

Muitas vezes, ao nos depararmos com essa história, pensamos que a lição para nós é que não devemos ser como as pessoas religiosas, que se preocupam mais com tradições e aparências do que em cuidar e amar o próximo. Sem dúvida essa é sim uma lição valiosíssima.  Mas certa vez ouvi de um pregador que, na verdade, nessa história, nós não somos o bom samaritano. Esse homem no chão, abandonado, sem esperança, ferido, semi-morto somos nós! Nosso coração foi ferido e atacado por um “assaltante” chamado pecado! E a religião não pode nos salvar (representado pelo levita), a Lei não pode nos salvar (representado pelo fariseu, que era um conhecedor da lei). Até que enfim, passa por nós aquele de quem éramos inimigos, o Bom Samaritano, Jesus! Ele se enche de compaixão e pára. Cuida da nossa alma, das nossas feridas, nos leva até um lugar de cuidado e paga (não com moedas, mas com sua própria vida, o preço para nos salvar). Antes de querer ser o bom samaritano temos que entender que nós somos aquele homem no chão e o nosso Bom Samaritano se chama Jesus!

Quando compreendemos que Jesus nos amou primeiro, aprendemos a não menosprezar a necessidade do outro, a dor do outro, os medos do outro. Nem sempre era legal receber ex-presidiários em casa, com certeza tiveram pessoas que tomaram vantagem da generosidade da minha avó. Receber em casa, cuidar de pessoas, visitar doentes nos hospitais, raramente é conveniente, mas o Bom Samaritano não se preocupou com custos, conveniência ou conforto. Lembremos que toda essa historia foi narrada por Jesus em resposta a uma pergunta: “Quem é o meu próximo?”

“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo.
Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram;
necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.
Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?
Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos?
Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? ’
O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.”
Mateus 25:34-40 (NVI)

Fotografia: Tom Ezzatkhah on Unsplash

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2 comentários sobre “Quem é o meu próximo?

  1. Lorena! Bem elucidativo o seu texto. Que forte é a sensação ao lermos: “Antes de querer ser o bom samaritano temos que entender que nós somos aquele homem no chão e o nosso Bom Samaritano se chama Jesus!” Obrigada por nos lembrar que somos aquele homem caído.

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