De queda em queda

Há algum tempo tenho vontade de estar mais em contato com a natureza. Não, não foi uma resolução de ano novo, mas um desejo que nasceu dentro de mim depois de entender que perdia uma grande oportunidade de apreciar a criação de Deus quando preferia ficar em casa. E logo neste início de ano, meu esposo combinou com uns amigos de passarmos uns dias nas montanhas. Quem me dera fosse um passeio relaxante, tomando chocolate quente em frente a lareira. Pelo contrário, iríamos esquiar. Cabe aqui uma pequena nota de esclarecimento: meus dias esportivos foram aposentados quando tinha uns 15 anos. E desde lá me esquivei de atividades que me fizessem… bem… suar. E, para agravar a situação, não entendia nada sobre o esporte.

Chegando à montanha, fui para a minha primeira aula de esqui. O instrutor nos ensinou movimentos simples, desde como ficar em pé, até o mais importante de todos: frear. Sim, quando se está indo montanha abaixo, é importante saber como parar. Minhas coleguinhas iniciantes em esqui e eu treinamos durante a tarde toda como subir e descer a ladeira de estudantes – mais usada por crianças. Ao fim do dia, me senti confiante o suficiente para desbravar uma descida maior no dia seguinte, apesar de ainda ser para iniciantes.

Meu esposo, que é dado as atividades esportivas e que já tinha experiência praticando o snowboard, disse que me acompanharia a cada passo -ou deslizada- que desse. E juntos, descemos a montanha corajosa e lindamente. Um sucesso. Fim. Final feliz. Só que não. Caí nos três primeiros minutos. O sacrifício de tentar levantar sem ter de tirar aqueles pés de patos era imenso. E pasmem, assim que fiquei em pé, caí novamente. E fui de queda em queda até o fim da montanha, onde pedi para que meu esposo passeasse um pouco e depois voltasse para me pegar quando estivesse mais recuperada das minhas falhas. Ele se sentou ao meu lado, e calmamente perguntou se eu queria desistir. Disse que sim, que estava frustrada, com os pés doloridos. Estava me sentindo como uma perdedora. E ali, no banquinho tomado pela neve, meu esposo me encorajou, dizendo que ele sabia que eu conseguiria se tentasse mais algumas vezes. Me disse também, que cair é NORMAL, e que faz parte do esporte. “It’s all part of the game”. Ele acreditou em mim, mesmo sabendo que, naquele momento, eu não via nenhum tipo de força em mim mesma para continuar.

Meio desacreditada, levantei do banquinho, e iniciei a descida. Meu marido avisou: Estou atrás de você. E qual minha surpresa! Desci toda a ladeira, com todas as curvas, sem cair! Desajeitada? Sim! Tremendo de medo? Sim! Igual o Bambi aprendendo a andar? Sim! E enquanto desbravava a montanha, ouvia meu maridão gritando: “YES! Isso mesmo, babe! Você está esquiando!” E quando chegamos no pé da montanha, ele contente afirmou: “estou tão orgulhoso de você!”. Nos abraçamos e voltamos ao topo da montanha, mas dessa vez com uma atitude um pouco diferente: Eu posso e eu vou!

Enquanto pensava sobre as resoluções de ano novo, me veio à mente a resistência que temos em traçar planos e segui-los. Penso que há algo sobre o cair e a dificuldade de levantar. Aquela sensação de desistência que dá quando nossos planos não saem como desejávamos, a nossa dieta não começa na segunda, o dinheiro poupado para a sonhada viagem não é suficiente (ou é usado em alguma emergência), ou nossos alvos de repente parecem pequenos comparados com o que nossos amigos têm para si. A gente cai e desanima. Levantar é difícil, desconfortável, e muitas vezes dói. Melhor ficar sentada, no banquinho de neve.

Penso que Jesus nos dá oportunidades de crescimento em todas as situações, e nos permite que ajustemos nossas lentes para que enxerguemos atropelos, pausas e reticências como expectativas de amadurecimento. E mais do que isto, Ele providencia o amor necessário para nos enxergamos como capazes de lutar pelos nossos objetivos, e nunca sozinhos. Há uma linha tênue entre desafiar e encorajare é necessário encontrar o equilíbrio entre elas para que haja crescimento contínuo.

No entanto, nesse tumulto de sentimentos, e da falta de esperança que as quedas trazem, acabamos por nem ousar fazer planos. Colocamos a caneta de lado e jogamos a toalha. Desistimos ao sinal da primeira dificuldade. Nessas horas, é extremamente importante ter alguém que se disponha a sentar conosco na nossa frustração. Alguém que já tenha passado pelas quedas da vida, e saiba quão desanimador e dolorido é estar no chão, ao passo que este indivíduo também entenda a importância do encorajamento. Uma pessoa que seja a extensão da graça de Deus em nossas vidas e nos acompanhe em nossa caminhada, seja esta rápida ou devagar, subindo ou descendo os vales.

Sejam lá quais forem seu sonhos, planos e desejos para este ano que se iniciou, cerque-se de amigos-irmãos, que entendam o seu momento na vida, mas que não tenham medo de desafiá-lo a encarar o crescimento, por mais que eles venham acompanhados de quedas, atropelos, ansiedades e medos. E que ressoem o amor e capacitação dada por Deus a você. Encontre pessoas que confrontem a mentalidade de desistência, e convidem a sair da famosa zona de conforto. É difícil, chato e custa bastante suor. Porém, o sabor da conquista é doce, e as lições perduram. Muitas vezes essas conquistas serão invisíveis a olhos nus, mas muito reais para você e seu coração.

Hoje mesmo, ainda vejo as marcas desta aventura na neve, meus roxinhos nas pernas irão me acompanhar por algumas semanas ainda, servindo de lembrança das quedas que levei. E martelando em minha mente que o mais importante é não ficar sentado.

Fotografia: Filme Bridget Jones: No Limite da Razão ©2004 Universal Studio and Studio Canal and Miramax Film Corp.

 

Publicidade

10 comentários sobre “De queda em queda

  1. Oi Heyde! Sou amiga de sua mãe linda que me enviou esse link. Lendo teu texto pra lá de propício a mim nessa fase da vida, chorei muito pois me sinto caindo o tempo todo … vendo meus planos sendo frustrados e meus sonhos se congelando dentro do meu coração… mas prossigo para o 🎯
    Obg por partilhar seus pensamentos … vou refletir em cada palavra
    Deus a abençoe sempre! Bj

    Curtir

  2. Sobrinha linda. Lendo o teu texto me veio à memória os teus tempos de criança. Eram muitas estripulias. Era um cai e levanta, um medo e uma coragem… Assim vc segue a sua vida sem desistir e sempre persistindo ❤️

    Curtir

  3. Que texto delicioso! Consegui “te ver” sentada na neve, com os esquis, e sem vontade de levantar. Mas “vi” também como Deus usou o seu marido pra te erguer, numa analogia de como Ele nos levanta quando caímos! Escreva sempre!!!

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s