Ano novo – quantas expectativas e sonhos giram em torno da mera mudança de calendário. Desde criança sempre achei estranho a forma com as pessoas lidam com esta data. Parece que por um dia todos acreditam que num passe de mágica tudo pode melhorar, ou que as pessoas podem mudar, alcançar um padrão maior e melhor do que o do ano que terminou.
Minha família não tem o costume de fazer listas, resoluções, portanto eu mesma nunca cheguei a de fato fazer alguma. Talvez internamente tenha feito, uma vez que sempre existem questões a serem amadurecidas em nossas vidas. Sejam as resoluções declaradas em uma espécie de lista ou simplesmente gravadas no coração, um fato é notório – a dificuldade de cumprir aquilo que desejamos para nós mesmos, e inclusive, para o próximo.
Quando o tema “ano novo” vem à tona, há uma música de uma das minhas bandas preferidas (Switchfoot) que sempre aparece nos meus pensamentos. É interessante como o compositor, Jon Foreman, retrata o que para mim parece ser a sensação de “ano novo”. O tom de melancolia se encaixa perfeitamente quando penso em toda a expectativa gerada pelos indivíduos que tanto se empenham em usar trajes brancos e na forma como de fato lidam com as guerras vindouras – um ano cheio dos mesmos desafios daquele que já passou.
“Já estamos no ano novo, ou é esta apenas uma noite qualquer? Sinto um novo medo ou é este apenas outro susto? Uma nova lágrima corre ou é apenas sinal de mais um desespero? (…) Será um dia como este, quando o mundo desabará.” (The Blues – Switchfoot)
No contexto brasileiro há uma bela ilustração do que enxergo como antagônico nas resoluções (mundanas) de ano novo: logo no começo do ano, no Carnaval, nos deparamos com exatamente o contrário daquilo que talvez o ano novo devesse representar. A depravação dos indivíduos que arduamente planejaram um ano melhor é colocada em cena, até ganha aplausos e é revestida de um ar de alegria, uma falsa alegria.
No que depender de nós mesmos e das listas de resoluções, as grandes questões da vida continuarão as mesmas, a não ser para seres mais evoluídos, imagino. O que de fato nos move e motiva as nossas decisões e, infelizmente, lamentações, continua a latejar em nossos corações, seja em 2017, 2018, ou até em 2019, se Deus nos permitir chegar até lá.
Enquanto aqueles que estão longe de Cristo lutam para alcançar um padrão melhor, de acordo com os seus próprios conceitos, muitas vezes no intuito de se tornarem “seres mais elevados”, nós, cristãos, somos chamados a lutar a cada dia contra os padrões que nos querem empurrar “goela abaixo”, e essa luta deve refletir e reverberar durante todos os dias, incessantemente, até que sejamos aperfeiçoados em Cristo, quando com Ele formos morar.
Não acredito que haja um problema com a expectativa em si de um ano melhor, ou sonhar em alcançar padrões diferentes e melhores (comer menos, praticar mais exercícios, estudar mais, amar mais, reclamar menos, e por aí vai…). A grande questão reside no fato de que a mudança deve nascer no mais profundo de nossos corações, independente de qual seja a época do ano, seja no começo, meio, ou fim. O que verdadeiramente é capaz de mudar nossos costumes, padrões e vícios, é o agir do Espírito Santo em nós, através de seu fruto: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22).
Concluo que a melhor resolução de ano novo, que nos foi ordenada pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 11:1, deve ser, na verdade, a resolução da própria vida: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” Estejamos atentos, uma vez que “será num dia como este (talvez ano novo ou carnaval), quando o mundo desabará.”
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