Os melhores finais de ano que passei, foram na cidade de Ribeirão Preto quando criança. Era bom demais! Por incrível que pareça, eu e meus irmãos nos divertíamos até mesmo nas compras de supermercado com nossos pais. Gostávamos de verdade de participar da compra do peru, dos ingredientes para o salpicão, tutu de feijão, entre outras compras que faziam parte da ceia de Natal. Na igreja participávamos no coral infantil. Em casa tínhamos uma singela árvore enfeitada. Todas essas coisas, quando somadas, pareciam salvar o ano de todos os males que haviam acontecido.
Tenho saudades dessa época, uma saudade dolorida de não sentir a mesma alegria de quando era criança. Sei que isso parece soar meio depressivo mas, hoje em dia, por mais que eu goste do final do ano e ame comemorar o Natal, não consigo esquecer os males que se passaram.
Me soa prepotente quando alguém fala, com a maior naturalidade, que é possível caminhar tranquilamente e esquecer de toda dor que sofreu. Por mais que eu veja todas as coisas boas que aconteceram durante o ano, lembro claramente de todas as outras que me entristeceram.
Em alguns casos, pode ser falta de perdão ou rancor mas, sei que também já perdoei várias coisas que ainda doem. Creio que a vida é construída por caminhos pedregosos que nos ralam os joelhos e pés, ainda que Cristo tenha amaciado a terra, aberto o caminho e recebido todos os pregos.
Ao mesmo tempo, me sinto aliviada por não estar anestesiada como quando criança (por mais que sinta saudades daquele tempo). Percebo que a dor e os males que nos afligem são também uma benção para nos despertar. Não são uma mesa farta de Natal e um Ano Novo que farão tudo melhorar.
Tento imaginar o menino Jesus sereno, dormindo perto de seus pais. E pensar que pouco tempo depois Ele seria uma benção através de dor e sofrimento! Benção que nos acorda da anestesia desse mundo. Benção que nos faz despertar para a esperança de que um dia a alegria e felicidade darão as mãos em uma roda e deixarão a tristeza de fora. Benção que nos faz ter o privilégio de passar por sofrimentos e dificuldades como Cristo passou.
Mas, céus! Como é difícil!
Azim Abdul, um beduíno seguidor de Jesus aconselha:
“… temos que entender a maior de todas as lições – nunca deixar que a areia do deserto penetre em nossas almas. Nunca deixar que a voz do desespero se torne mais alta do que a luz da Estrela da manhã. Nunca deixar que a violência da jornada nesta terra nos roube o silêncio que nos liga a Deus. Nunca deixar que a nossa vista se perca no meio das areias quentes do deserto, ao ponto de, não percebermos que elas são somente uma obra que Deus está construindo e que não chegou ao fim…
Mas, acima de tudo não deixe que seus olhos se fixem demais na dor que viaja contigo sobre o seu camelo, até que se esqueça que todo deserto termina em um oásis, quer você perceba ou não!” (Habitantes das Terras Abertas)
Então lembro da Estrela da Manhã, que ainda traz a esperança para um mundo caído., que me faz olhar para esse ano que passou e me dá esperança para o próximo. Esperança que não me fará esquecer da dor, mas que estará comigo em todos os momentos. É essa a esperança que quero pra sempre. Até o tempo oportuno que não haverá mais calendários e finais de ano, pois a Eternidade será o nosso deleite no Senhor!
Fotografia: Katerina Radvanska on Unsplash
Lindas palavras que nos fazem relembrar a verdade da vida… amei Polly!!!
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