Eu amo a minha avó. Infelizmente não tive muito tempo com ela (ela me conheceu quando eu era bebê, mas faleceu quando eu e minha família morávamos em Moçambique, para onde fui com 3 anos). Mesmo assim, pelas histórias contadas por minha mãe, pelas fotos e pelos princípios ensinados, ela vive num lugar muito especial em meu coração. Mas uma coisa que ela falava, que eu não ouvi dela, mas minha mãe sempre fez questão de me dizer, eu não consigo concordar. Ela tinha suas frases de sabedoria, como toda boa avó. E esta em particular era: “o melhor da festa é esperar por ela”. O quê!? Vó, me desculpa, mas vamos combinar, o melhor da festa é comer, dançar, rir, ver os amigos, ganhar presente, dar presente, ficar acordada até mais tarde, qualquer coisa! Mas esperar até ela acontecer? Primeiro que esperar já é ruim, mas como esperar pode ser melhor que tudo isso?
Agora, você deve estar me esperando contar experiências pessoais ou revelações teológicas que me mostraram como esse princípio é real e verdadeiro. Sinto informar, mas eu ainda não consigo entender, concordar e muito menos gostar dessa frase. Minha mãe é uma leitora assídua deste blog (é só ver pelos comentários dela quando eu escrevo por aqui), e espero que ela não tenha reparado no trecho acima…rsrs. E se você concorda com a frase de minha avó, deixe nos comentários sua opinião ou me conte o que aconteceu em sua vida que fez você sentir-se assim, ok? Quem sabe me ajude a entender melhor!
Bom, independentemente disso, eu espero. Não temos muita escolha nesse assunto… a não ser que a gente tenha “escolhido esperar”. Mas não é disso que estou falando. Esperas fazem parte da vida, entramos nesse mundo assim, não é mesmo? Esperando e sendo esperados!
Se você ler meu perfil vai ver que sou missionária entre povos indígenas no norte do Brasil. O que você não sabe é em que pé que estou nesse trabalho. Vir para Santarém foi bastante rápido. Em seis meses tudo já estava decidido (por “tudo” digo minha vinda para cá, mas quanto às especificações do trabalho, “nada” descreveria melhor). Os planos e estratégias mudavam a cada semana. Primeiro iríamos, eu e minha colega, direto para uma aldeia. Depois, moraríamos em Santarém por um ano antes de ir para a tribo. E nas semanas seguintes mudou a região, o rio, a logística, a equipe, e por aí vai!
Mas isso nunca me incomodou. Crescendo em uma família de missionários, sei que coisas assim fazem parte do trabalho. As mudanças surgem e nós não controlamos as situações. O importante é que o Senhor para quem trabalho nunca muda e Ele sim, controla todas essas situações! Uma vez que o sirvamos, como certeza ficamos descansadas e em paz.
Nesse tempo aqui em Santarém, as coisas continuam mudando e, cá entre nós (não conte pra ninguém da minha equipe), eu acredito que ainda vão mudar! No momento, estamos prevendo visitar nossa aldeia em fevereiro de 2018. Essa data já mudou mais que o corte de cabelo do Neymar!
Então, o que estou fazendo aqui em Santarém? Bom, tenho desenvolvido relacionamentos e participado de ministérios em duas igrejas da cidade, desafiando jovens para missões, evangelismos, trabalho com crianças, etc… E tem sido benção! Não há lugar para tédio ou desânimo! Mas isso não muda o fato de que estamos aqui em Santarém esperando.
Esperando o momento certo, esperando nossa equipe chegar em fevereiro, esperando pra colocar em prática tudo o que aprendi nos três anos e meio de curso, esperando o que eu sonhei minha vida inteira, esperando a festa que será finalmente estar entre o povo que tanto desejo conhecer, aprender junto e servir – o povo que Deus colocou em meu coração! Eu consigo imaginar minha avó sorrindo e falando docemente: minha filha, o melhor da festa é esperar por ela! Por isso que eu sempre gostei de festa surpresa… Mas ministério surpresa não existe!
Se fosse assim, imagino o desastre que seria! Até festas surpresas requerem um preparo pelas pessoas envolvidas. Se não houver preparo, não há festa (ou tem uma festa muito ruim… a comida acaba antes da hora, os convidados chegam atrasados, etc). Se não houver preparo, não terá ministério. Ou terá um muito ruim, que pode trazer mais males do que bem. E assim, posso ver o tanto de coisas em minha vida que o Senhor tem tratado, mudado e ensinado nesse tempo de espera aqui em Santarém. Coisas que me atrapalhariam e prejudicariam muito no trabalho. A verdade é que Deus sabe de tudo. Ele sabe o tempo certo de todas as coisas e eu prefiro esperar o tempo dEle, que é perfeito, do que ir de atravessado na hora que eu quiser e acabar estragando as coisas.
É como fazer um bolo. Se você, impacientemente, abre o forno a toda hora, ele murcha. Se você tirá-lo antes de assar por completo, ele fica mole e estranho. Mas se você espera a hora certa pode se deliciar com o sabor e cheiro maravilhoso que fica pela casa!
Às vezes me sinto como Moisés, que depois de tanto tempo, tantas circunstâncias, finalmente chega em Canaã, mas, impedido de entrar ali, ele apenas olha para a terra prometida, tão esperada, tão desejada, tão próxima mas fora de seu alcance! Eu estou aqui, às portas de meu ministério, me preparando, estudando a língua, a cultura, olhando a terra… mas ainda não posso entrar. Só que, diferente de Moisés, não é o fim, é apenas o começo. E isso não desanima, mas me enche de esperança!
Não sei o que você está esperando, mas não é o fim! Deixe o Senhor te tratar e ensinar com todo o amor e cuidado dEle nesse processo. “O que o Senhor quer te ensinar com isso?” sempre dizia um de meus professores no treinamento. Estou buscando aproveitar esse “tempo de espera” o máximo possível, buscando o Senhor, sendo moldada por ele e continuando a ser preparada para o que virá.
E olha, essa festa promete! Eu ainda não concordo que esperar é melhor que a festa em si, mas de uma coisa eu sei, vai valer muito a pena esperar por essa festa!
Fotografia: Applause.com.au
Parabéns, filha amada! Está aprendendo a esperar!!
Nosso Deus trabalha para aqueles que nele esperam!! (Is 64.4)
A propósito, esperei 9 meses pra te conhecer, e isso depois de casada com seu pai por seis anos…. E valeu a pena!!!
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A minha avó dizia exatamente a mesma frase… e sabe uma coisa? Hoje, com meus 54 anos, entendo muito bem o que ela queria dizer, e confesso, Sarah: concordo com ela! E sabe a razão? As emoções e os aprendizados na espera trilham uma longa jornada e nos ensinam muito. Daí chega a bendita da festa e, algumas horinhas depois, ela acaba. Então a gente fica com aquela tal de “síndrome de abstinência” que demoooooora pra passar.
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Olha só!! Que jóia!!
Gostei muito de sua explicação, faz muito sentido!
Realmente, em termos de crescimento e amadurecimento, o tempo de espera é mais produtivo e nos ensina muito mais do que o desfrutar de algo.
Obrigada, Mônica!
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