Ele ficou em silêncio. Não proferiu nenhuma palavra. Ficou calado diante de mim. Não o reconheci! Afinal de contas, ele é carinhoso e sempre amável. Mas estava em silêncio! O meu Senhor estava quieto! Deus se calou.
Uma das piores situações é quando somos ignorados. A visualização de uma mensagem de WhatsApp não respondida que o diga (risos). Mesmo os mais tímidos gostam de ser percebidos e ouvidos. Somos pessoas sociais, nascemos assim. Por mais que você seja um tipo de pessoa um pouco antissocial, tenho certeza que sente necessidade de se comunicar de alguma maneira.
Um dos desejos mais profundos de nós seres humanos é sermos entendidos. Como é bom receber aquele abraço, aquela palavra amiga, aquele carinho inesperado. Lembro de uma tarde que estava triste e abatida. Recebi um telefonema de uma amiga querida que mudou não só meu dia, mas todo o resto da semana. Como foi bom ouvir a voz dela e sua oração, mesmo estando do outro lado do telefone. Como é bom recebermos alento e consolo. Como é bom sentarmos com nossos amigos e termos liberdade de desabafarmos. Sabermos que estão ali nos ouvindo. Apesar disso, a realidade vai nos mostrar que ninguém vai preencher por completo nossas necessidades a não ser Cristo.
Lembro até hoje o sentimento maravilhoso de saber que pertencia a um Deus amoroso. Ah, como era reconfortante saber que Ele estava juntinho a mim em todos passos. Na Escola Dominical ficava emocionada ao ouvir sobre suas qualidades. Minha vontade era sentar em seu colo e ouvir palavras bonitas. Ouvir que me amava, que cuidaria de mim pelo resto da vida. Cresci sabendo que Deus estaria sempre pronto a me atender, ouvir e responder. Mas um dia Ele ficou em silêncio!
Estava por volta dos vinte e poucos anos quando senti o peso do silêncio de Deus. Ele ficou calado de uma forma sutil, e em um momento que precisava muito. Lembro que orava incessantemente, mas parecia que estava orando para o nada. C.S.Lewis após a morte de sua esposa escreveu as seguintes palavras:
“Nesse meio tempo, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes. Quando você está feliz, muito feliz, não faz nenhuma ideia de vir a necessitar dEle, tão feliz, que se vê tentado a sentir suas reivindicações como uma interrupção; se se lembrar e voltar a Ele com gratidão e louvor, você será – ou assim parece – recebido de braços abertos. Mas, volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara, ao som do ferrolho sendo passado duas vezes do lado de dentro. Depois disso, silêncio.”
Exatamente assim, Deus havia fechado a porta, silenciou no momento que eu mais precisava.
Na minha infância, minha mãe fazia limonada dessas que levam a casca do limão. Lembro que tomávamos correndo, pois logo se tornava amargo. O Silêncio de Deus é amargo, pesado e confuso. Sempre ouvi e soube que Ele era meu Bom Pastor que me socorria. Mas Ele estava quieto. Abria meu coração e Ele não me respondia. Ficava me questionando sobre a promessa que estaria comigo todos os dias da minha vida. Onde estava Deus? Por que Ele estava calado no momento que mais precisava?
Da mesma forma que cresci em idade, eu precisava que Deus crescesse na minha vida. Não podia ser para sempre aquele Deus da minha tenra idade. Minha fé tinha que ser amadurecida. Minha fé precisava ir adiante, olhar para Ele mesmo sentindo peso amargo do Seu silêncio. Estava confortada em uma fé frágil e raquítica.
Em Mateus 15:21-28 uma mulher também sentiu o peso do silêncio do nosso Senhor:
E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. (verso 21-23)
Essa mulher cananeia recorreu a Jesus em um momento de aflição, porém Ele não responde nada. Imagine quão amargo foi ver Cristo, o filho de Davi agir dessa forma. Mas fé não volta sozinha. A fé clama pelas ruas atrás do Único que pode nos ajudar, mesmo em seu silêncio. Aquela mulher continuou clamando pelo Salvador:
E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. (verso 23-24)
Aquela mulher era estrangeira, além do silêncio do nosso Senhor, Ele agora dizia que havia vindo para às ovelhas da casa de Israel. Como devem ter doído essas palavras. Imagino-a olhando para Cristo com lágrimas nos olhos já rouca de clamar, e ouvir que não tinha direito. Mesmo assim continuou. Assim como a noiva no livro de Cantares sai pelas ruas atrás do Noivo, aquela cananeia fez igual. Ela O adorou mesmo sendo rejeitada.
Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. (verso 25-27)
Jesus agora dizia o tanto que ela era indigna. Como ela não merecia nada daquilo. Mas a fé é viva e nos move para mais perto ainda de Deus. Ela reconhecia que não era merecedora de sentar à mesa e se alimentar do mesmo alimento que Cristo, mas o pouco, as migalhas vindas d’Ele já seriam o bastante!
Minha fé também precisava ser reconstruída. Deus tinha mesmo de ficar em silêncio. Era necessário Ele agir dessa forma. Se Deus me desse tudo que eu precisava de imediato, eu continuaria com uma fé raquítica e infantil. Para prosseguirmos na caminhada cristã precisamos continuar atrás do nosso salvador mesmo em seu silêncio.
Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã (verso 28)
A fé daquela mulher foi fortalecida! Deus havia trabalhado a fé dela através do silêncio. Demorou para eu entender que Deus queria me fortalecer. Sei que sentirei o peso de outros momentos de silêncio aparente. Sim, aparente, pois Ele não se cala. O único que experimentou o verdadeiro silêncio, o verdadeiro insulto, foi o próprio Cristo naquela cruz quando clamava “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. Foi Cristo quem sentiu toda a amargura para que nós não sentíssemos o verdadeiro desprezo. Sei que minha fé ainda precisa de muito amadurecimento e que o Senhor vai trabalhar através de momentos de silêncio, mas que eu e você sejamos como aquela mulher cananeia. Continuemos atrás do nosso Senhor até que sejamos mais uma vez fortalecidos.
Fotografia: Pixabay
Linda lição
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Precisamos buscar o tipo de fé dessa mulher…
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