Derrubando os muros do rancor

Ah, os conflitos! Quando se pensa na caminhada da vida cristã, muitos acreditam ser fácil a sua resolução. Deveria ser, pois temos a “receita”, um manual de como nos relacionar de maneira saudável. Sabemos, como devemos tratar nossas diferenças, já que Mateus 18:15 nos mostra isso. “Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão”. Sabemos que devemos auxiliar e sermos auxiliados por nossos amigos no crescimento e amadurecimento. “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro. ” (Pv 27:17) E sabemos, como sabemos, que não devemos guardar rancor ou mágoas. Esse último é especialmente negligenciado.

Quantas enxaquecas, dores de estômago e noites em claro evitaríamos se aliviássemos o peso das ofensas do passado.

Mas infelizmente falhamos constantemente nesses quesitos. Nossa natureza reluta em agir da forma relacional descrita na Bíblia. Quando reflito sobre resolução de conflitos, é difícil não pensar no desenvolvimento do fruto do Espírito descrito em Gálatas 5:22 e na nossa total falta de dependência de Deus.

Como esse assunto é tenso para mim! Sou uma pessoa introvertida e quantas vezes lutei comigo mesma e clamei a Deus por coragem para falar, resolver conflitos, e derrubar barreiras relacionais que se erguiam diante de mim. Quantas vezes Deus me trouxe à mente 2 Timóteo 1:7 “Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. ” Ah, essa palavrinha, equilíbrio! Como preciso dela em minha vida! A sabedoria de decidir quando falar e quando me calar. Pois muitas vezes me calei por timidez, medo de piorar as coisas ou por pura covardia. Quantas vezes me calei quando não devia ou falei demais e por isso deixei de ser bênção e ainda acabei carregando um fardo desnecessário.

Infelizmente sei bem o que é carregar fardos desnecessários. Por anos lutei com a questão do perdão. Tive grandes dificuldades em perdoar as falhas do meu pai em relação ao abandono a minha família. Mesmo depois de conhecer o amor do Pai eterno, as marcas deixadas pelo pai terreno foram tão profundas a ponto de eu recorrer à ajuda de um conselheiro para lidar com a prisão de mágoa na qual vinha vivendo.

Como foi grande minha decepção quando descobri que meu coração ainda não havia aprendido a lidar com o perdão da maneira bíblica. Quando pensava ter aprendido a lição depois de tudo que já havia passado, surge uma nova situação difícil e puff!  Lá estava eu construindo uma nova prisão de dor e ressentimento. Cada vez que lia a parábola do servo impiedoso em Mateus 18:21-35, meu coração ficava pesado e uma grande tristeza o invadia. Sabia o que devia fazer e como fazer, mas como era difícil abrir mão, e sofrer o prejuízo. Quando sofremos uma ofensa, muitas coisas pesam no nosso coração: quem nos ofendeu, por quanto tempo, se houve ou não um pedido de perdão. E o que queremos é que saibam o tamanho da nossa dor, o quanto estamos sofrendo. Nossa natureza egoísta não é nada graciosa.

Quando deixamos de perdoar nos tornamos prisioneiros em um cativeiro que erguemos tijolo a tijolo.

A dor só piora quando a alimentamos e, muitas vezes, até nosso corpo sofre com isso. Perdemos a paz e, o pecado do outro logo se torna um pecado no nosso coração. A angústia causada pela decepção se torna raiva, e quando não é dominada se enraiza, gerando amargura e mais dor. Temos, assim, um ciclo vicioso e destrutivo, já que a amargura mata os relacionamentos.

“Um irmão ofendido é mais inacessível do que uma cidade fortificada, e as discussões são como as portas trancadas de uma cidadela. ” (Provérbios 18:19)

Precisamos prezar por nossos relacionamentos e escolher aceitar os pedidos de perdão, abrindo mão do direito de exigir justiça. E quando não houver um pedido de perdão, ou reconhecimento do erro, só temos uma coisa a fazer: buscar a Deus. E Ele nos ensinará, nos moldará e ajudará a amar, caminhar uma milha a mais, e dar a outra face.

“Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo. ” (Efésios 4:31, 32)

Para ser liberta da minha nova prisão precisei aprender que tenho que aceitar a injustiça do ferimento, a crueldade do pecado e estar pronta a perdoar.  Mesmo que não haja arrependimento da parte do ofensor, não posso alimentar a decepção, ou ela se tornará raiva e rancor. A falha do outro não pode dominar minha mente e minhas emoções.

As lições que precisamos para nosso amadurecimento não são fáceis, na verdade são até difíceis de compreender, muitas são dolorosas, mas necessárias. Que bom que Deus nos acompanha! E olhando para Cristo, Aquele que conhece todas as dores, seguindo os passos de Cristo podemos seguir em frente.

“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,” (Filipenses 3:13) Essa foi uma das lições que tive com o Senhor, porque em meio as minhas faltas e fraquezas, Ele continua a me ensinar.

 

Fotografia: Pixabay

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