Vida Real

E aqui estou eu novamente, sentada, orando… Tentando fazer sentido da maneira que meu cérebro funciona. Essa cena se repete mais do que eu gostaria…

Com o tema deste mês sendo legado, e com o dia das mães passado, fiquei pensando no que iria escrever. Refleti muito sobre a maternidade real, com percalços e barreiras a se transpor. E dentro desse tema, não há como não falar das barreiras que tenho que vencer diariamente. Este é um breve e bem resumido relato que fala sobre a minha entrada nesta aventura que é ser mãe. É o que tenho vivido pelos últimos sete anos, desde a minha primeira gravidez. Relutei por falar neste assunto porque é bem pessoal. Mas me lembrei que, desde que descobri que isto é uma doença e que existe tratamento para ela, decidi que iria tentar ser uma ferramenta nas mãos de Deus contra o preconceito e ignorância a respeito de disfunções psicológicas.

Faço tratamento para depressão e ansiedade há mais ou menos 13 anos. Já parei de tomar o remédio algumas vezes, e tenho de retornar à medicação uma hora ou outra. Houve um tempo em que sentia que isso era uma declaração de derrota, mas hoje tenho aprendido a lidar melhor com essa situação.

Durante minha vida passei alguns apertos relacionados à depressão, mas falando especificamente da maternidade já posso apontar alguns momentos bem delicados. Em minha primeira gravidez, tive muita depressão e pânico, mas consegui não tomar medicação. A depressão pós-parto foi bem pesada! Da segunda vez, o tempo de gestação foi bem mais tranquilo, porém a depressão pós-parto veio bem mais pesada! O cansaço de ter dois bebês (Kairos com 2 anos e 9 meses e a Petra recém-nascida), e as alterações hormonais me colocaram bem pra baixo. Por essa razão, entre outras, decidimos não tentar mais o terceiro (sempre quis ter três). Deus, no entanto, tinha outros planos e eu engravidei novamente. A gravidez foi cansativa, o que era esperado,  já que tinha dois filhos pequenos, mas havia algo mais além do cansaço. Na vigésima sétima semana, fui diagnosticada com hipertensão e comecei a ser medicada para isso. E com vinte e nove semanas fui internada com pré-eclâmpsia. Cinco dias depois, o Zion nasceu, com sete meses. Tão pequenino (nasceu pesando 1,180 kg), ficou quarenta e quatro dias na UTI neonatal. A depressão e ansiedade marcaram presença fortemente nesse pós-parto, assim mesmo consegui amamentar sem tomar meu remédio por um ano.

Nem sempre a pessoa depressiva está em crise. Há tempos de bastante estabilidade emocional, às vezes tendo que gerenciar uma coisinha aqui e outra ali, mas no geral, bem. Mas a crise existe sim, e as estruturas de graça entram em ação, a família, comunidade (igreja), terapia e médico, ajudam a gente a encontrar o equilíbrio de novo.

Já houve momentos em que me perguntei muito sobre como eu posso exercer a maternidade diante de uma coisa que é, algumas vezes, incapacitante. Como eu poderia cuidar de alguém? Quais seriam as mazelas que iria causar neles por conta das minhas lutas internas tão intensas? Aí vem mais aprendizado. Vivendo um dia de cada vez e mostrando para meus filhos que não sou perfeita, mas sou quem sou. Quando preciso, peço perdão, abraço, me arrependo… Eles aprendem comigo a ter graça e eu aprendo com eles a caminhar em frente, em direção à vida. Eles são um presente de Deus, e me ajudam a manter a cabeça acima da água.

Aprendi que, assim como em outras doenças crônicas (diabetes e pressão alta, por exemplo), tenho que tomar remédios diariamente e saber meus limites. Preciso aprender a conviver com uma limitação. Posso viver uma vida normal, trabalhar, estudar, ser mãe, e esposa, mas preciso entender que algumas horas é necessário diminuir a passada, caminhar com mais calma e recuperar a respiração.

A minha condição de dependente de Deus está sempre fresca na minha cabeça: sem Ele, não posso. Apesar da minha personalidade forte e tendência à auto-suficiência, todos os dias sou lembrada de que preciso de Deus para continuar.

Então… qual poderá ser meu legado? Se existe algo que quero deixar para meus filhos, e que desejo ensinar, é que Deus é Deus sempre! Ele não precisa que tudo esteja bem pra ser Deus. Ele é soberano até no caos, na escuridão, no vale e no deserto. Deus não precisa da calmaria para que eu acredite n’Ele. Na hora do pranto, Ele me segura em seus braços e ouve o meu soluçar. Deus é um Paizinho amoroso, que me carrega nos braços quando não tenho forças pra caminhar.

Aprendi o que é caminhar por fé e não por vista, confiar no que sei e não no que sinto. Uns dias consigo mais, outros menos, mas sempre caminhando. Aprendi que ainda com dor, e às vezes sem vontade de viver, há esperança! Porque Ele é a esperança e a fonte de todo o bem. Então a gente vai. Vai como dá, mas vai. Vou junto a Ele, rumo ao aperfeiçoamento d’Ele em mim. Como um pai que enxerga seu filho dando os primeiros passos e cambaleando, caindo. Um pai que olha nos olhos do filho, meio agachado, com as mãos estendidas, caminhando para trás enquanto seu bebê ensaia passos para frente. O pai que diz: “Filhinho, continue andando. Vem! Você consegue! O papai está aqui e não te deixa cair. Continue andando pro papai”. Esse é o meu Pai Celeste, que me toma pela mão e diz: Não temas que eu te ajudo.

“‘Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro.'” (Jeremias 29:11)

Fotografia: Unsplash

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26 comentários sobre “Vida Real

  1. Obrigado por compartilhar sua história e as experiências. E todos que estão perto de ti sabem que Deus transformou todo sofrimento em testemunho. “E que os gritos de alegria do Zion nos lembre que o Kairoz de Deus nos torna firmes Petras”
    Paz!

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  2. Mixmartins, também estou passando por um tratamento de depressão e ansiedade e espero em Deus consegui parar a medicação e não ter mais recaídas.
    Seu relato é muito encorajador e me trouxe o que eu preciso : aceitar que a depressão é uma doença como outra qualquer. Obrigada por contribuir para minha evolução e melhora.
    Bjs

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  3. Muito lindo e emocionante! Tu es um exemplo pra mim de mãe de verdade, e sou muito grata a Ele de acompanhar essa história de pertinho.
    E eu continuo aqui tb tentando aprender com Ele a viver do que sei e saber que Ele é Deus todo dia, bom ou ruim ♡

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  4. Muito emocionante teu relato, Mical!!! Que bom poder contar com a graça do nosso Deus diariamente, saber que está ali, com suas mãos estendidas para nos auxiliar sempre!! Que o Senhor Jesus continue fortalecendo tua vida e te inspirando a compartilhar tua caminhada!! Beijo.

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  5. Obrigada por compartilhar sua experiência. Me emocionou muito, pois vi tanto das minhas lutas em seu relato. Existe tanto preconceito em relação a depressão, que as vezes só aumenta nossa dor. Que o Senhor continue a conduzi-la pela mão nesta caminhada.

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  6. Eu, como uma mulher que convive com a depressão a mais de 15 anos, sempre me emociono com textos assim, que coisa linda é ver alguém escrever algo tão impactante de forma tão simples e delicada, que eu não conseguiria transmitir em palavras. para nós, que sofremos com a depressão sabemos das dificuldades e lutas que temos, para realizar quaisquer atividades e conciliar estudo, trabalho, família, e tudo mais. Tenho um sonho de ser mãe de dois, mas, ainda sinto muita limitação e possuo barreiras psicológicas gigantes, para realizar esse sonho, mas, com textos assim, falando da força da maternidade, de forma tão simples, dá força de concretizar o sonho e colocar o medo no bolso. parabéns, pelo texto, e por compartilhar com outras mulheres, em nossa situação, algo tão pessoal, de forma tão encorajadora…..

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    • Luana, querida… Meu coração bateu forte aqui pensando em ti. Peço forças de Deus sobre ti. Saiba os seus limites mas não desista dos seus sonhos. O nosso Deus nos fortalece e capacita! Um pé depois do outro a gente caminha. Um abraço apertado de quem conhece essa luta que você vive!

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