Começos

Algo só começa quando outra coisa termina. Essa é uma verdade difícil de digerir. Nem sempre estamos conscientes disso ou, em outras tantas vezes, entramos em negação de que é preciso começar, e dar um passo à frente. Iniciar uma caminhada, uma jornada.

Em alguns momentos, achamos que já conhecemos a estrada, já seguimos por ela antes… É uma decisão que já tomamos antes, mas que às vezes não conseguimos ir até o final. Pensamos estar recomeçando, “re”- caminhando por um lugar já visto por nós antes. Mas nos ciclos da vida, por vezes voltamos com algo diferente. Mesmo se estivermos olhando para a estrada com olhos desesperançosos, achando que tudo será igual como da última vez… não é. Porque se o caminho já foi percorrido uma vez anterior, embora não o tenha concluído, desta vez você já o conhece- ou pelo menos uma parte dele.

Quando saímos de um ciclo para entrarmos em outro, levamos marcas (boas ou ruins) que nos fazem ser alguém mais complexo, talvez mais inteiro, talvez menos, mas definitivamente… não igual a antes.

É legal conseguirmos enxergar isso. Cada ciclo deixa algo ou leva algo. É necessário estarmos conscientes. E esse é o caminho da maturidade, a capacidade de olharmos para essa etapa concluída e conseguirmos perceber que ela foi finalizada sim! Mesmo nas vezes em que estamos com dificuldade de tirar o pé do chão. Olhamos para trás e percebemos… “uau! Que caminhada!”. E o pé fica ali, fincado, mas quando se olha pra frente, não tem mais pra onde ir. Chegou ao fim! Precisamos saber que devemos tirar o pé do chão para dar o novo passo, em um novo caminho.

Existe, porém, um espaço de tempo entre o saber que um ciclo acabou, e o cérebro mandar a mensagem para o pé que tem que sair dali e ir para outro lugar. Algumas vezes isso é um longo processo. Se você é como eu, e tende a avaliar tudo, você olha, observa, olha de novo, tentando prestar atenção em todos os detalhes. Você tenta se convencer que é prudência, mas no fundinho você sabe que é um misto de medo do desconhecido com saudade do que você acabou de deixar de ser. A realidade acaba de ser descortinada de uma maneira singular e você precisa agir.

Em muitos momentos na caminhada, nos convencemos que o pé tem que ser tirado de um caminho e colocado em outro o mais rápido possível. Mas quando fazemos as coisas muito rapidamente, podemos tropeçar e cair. Por isso, precisamos respeitar nosso tempo, nosso processo, nosso ritmo. E lembrar: isso não é desculpa para não se mover, mas é escolher fazer isso da maneira mais saudável possível, no seu ritmo.

Cada um tem um jeito de encarar o término e o começo. Cada um tem o direito de olhar e decidir, e caminhar no passo que lhe convém, ou que lhe cabe, ou mesmo que consiga. Alguns começos são cheios de entusiasmos e em outros, entramos nos arrastando. E não tem problema! Só é preciso que haja o movimento, por mínimo que seja.

Calma! Olhe ao redor! Permita-se enlutar pela perda, sinta a dor, chore! Ou então festeje as vitórias, faça uma festa pelas conquistas! Mas não deixe de trazer à consciência esse término e esse começo.

Algo sempre começa quando outro algo termina. O começo da vida de um bebê começa com o final de uma vida sem filhos, um corpo que vai ser modificado, que vai ser transformado. O começo de uma vida a dois é o final de uma vida só. O começo de uma dieta saudável é o final de uma vida de guloseimas e exageros.

Mas existe o momento chave… o momento da decisão do movimento. O momento da decisão de que eu preciso levantar meu pé, retirá-lo dessa estrada terminada e colocá-lo nessa desconhecida, nova.

Inspira, expira… Segure na mão do Pai, que nunca está longe, mas sempre perto. E comece a caminhada, rumo ao desconhecido, sentindo a brisa dos ventos de mudança. Abracemos o nosso eu modificado, pelas muitas jornadas que passamos, e sigamos… de fé em fé.

“O caminho muda, e muda o caminhante
É um caminho incerto, não um caminho errado
Eu, caminhante, quero o trajeto terminado
Mas, no caminho, mais importa o durante
Deixei pegadas lá no vale da morte
Um solo infértil aos meus muitos defeitos
Minha vida alargou-se em caminhos estreitos
E eu vi você
A Partida
E o Norte”
(Estevão Queiroga – A partida e o norte).

Fotografia: Pixabay

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