Sobre o gelo e as flores

Minha estação preferida é a primavera. Depois de um inverno rigoroso, onde o sol se põe as 4 da tarde, e o frio congelante nos impede de ficar andando pelas ruas por mais de 15 minutos, é uma maravilha quando a brisa morna começa a soprar.

O incrível é que a primavera meio que nos pega de surpresa. Claro que sabemos que dia 21 de março é a data oficial para o seu início, mas em pleno fevereiro gelado já se pode ver as primeiras flores brotando coloridinhas, como se acordassem de um sono prolongado. Logo em seguida, as árvores começam a florescer. Sim! As árvores literalmente se enchem de flores e folhas de todas as cores e tamanhos. E aí, ao que parece ser de uma vez só, a natureza invade o nosso quintal, com pássaros e esquilinhos celebrando, construindo ninhos, colhendo suas nozes.

É o começo de uma nova temporada, que foi muito esperada por todos que não veem o inverno como amigo. Isto me lembra os ciclos da vida, os começos e fins de etapas que percorremos: nossos tempos congelantes, quando almejamos tanto pela brisa mais quente, ou o tempo ameno que traz consigo chuvas refrescantes. E quando o nosso Começo finalmente chega, como diria o salmista, ficamos como quem sonha. Sem acreditar que aquilo que nos causava gelo no coração, hoje se derrete.

Como todo ser humano, tento entender o sentido das estações que se constroem no meu coração. Nas minhas andanças, acabo vendo que não apreciaria a primavera a ponto de escrever esse texto, não fosse o inverno. Não reconheceria meus inícios, bons ou ruins, sem ter passado pelos fins e afins de minha caminhada.

Penso que esse seja o nosso grande desafio: a apreciação do novo. Este apreço surge quando usamos ferramentas específicas que podem tornar nossa jornada pelo inverno, e a transição para uma nova estação, mais leve. A palavra em voga usada para traduzir este sentimento é gratidão. Por anos a gratidão foi associada a uma quase negação de sentimentos, ou um esforço para não se reclamar das mazelas da vida. No entanto, há evidências científicas dos seus benefícios para a saúde da mente e da alma.

Um estudo, feito pela Associação Americana de Aconselhamento*, afirma que estar  disposto a praticar gratidão está positivamente relacionado a um aumento de autossatisfação, vitalidade e otimismo. Este estado mental difere de ignorar os aspectos negativos da vida, e encoraja os que a praticam a ter uma visão de mundo onde pequenas situações corriqueiras são vistas como presentes diários. Isto parece ser uma fantasia, ou balela, porém indivíduos que praticam gratidão relatam diminuição de estresse, ansiedade, depressão e até alívio de dores crônicas.

Talvez essas informações a peguem de supetão, mas permita-me lançar um experimento. Durante um mês tente manter um diário da gratidão, onde você escreverá pelo menos 5 coisas ou situações pelas quais você se sente grata naquele dia. Vamos começar com coisas pequenas como: pão francês fresquinho no café da manhã, pão de queijo quentinho, doce de leite, uma hora a mais de soneca. Veja se ao final da experiência houve alguma mudança no seu humor, na maneira de encarar situações fora do seu controle, ou até mesmo uma alteração na perspectiva da estação na qual você se encontra agora.

Analise o período no qual você se acha hoje. Lembre-se que o ciclo da vida continua e todas e quaisquer fases passarão. Ás vezes alternando entre noites escuras e frias, outonos e invernos, por outras entre um calor aconchegante e dias quentes. Porquanto não temos controle das variações de nossa caminhada, podemos escolher tomar atitudes que tornem a vida mais prazerosa. E claro, a certeza de que a manhã ensolarada de primavera virá, trazendo a luz do sol num lindo amanhecer, nos dá a esperança de dias melhores. Como o Grande Eu Sou prometeu “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito. Pensamentos de bem, e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jeremias 29:11).

E enquanto a primavera não chega, sejamos gratas pelo cheiro de neve que permeia o ar, apresentando nossas petições a Deus através da súplica, com ações de graça. E a paz de Deus que excede todo entendimento guardará nossa mente e coração (Filipenses 4:6, 7). Que alívio saber que o Deus que chama a primavera à existência cuida de nós!

*Fonte: Kini, P., Wong, J., McInnis, S., Gabana, N., & Brown, J. W. (2016). The effects of gratitude expression on neural activity. NeuroImage, 128, 1-10.

Fotografia: FreeWallpaper.info

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19 comentários sobre “Sobre o gelo e as flores

  1. É um desafio constante em nossas vidas manter uma atitude de gratidão….mas se pensarmos nos benefícios, conforme o texto, sem dúvidas é um outro patamar de vida….parabéns pelo texto e por ter me inspirado a ver com outros olhos todas as estações da vida e apreciar cada momento….a vida é aquela que passa por nossos olhos…a cada momento…a vida passa…a cada momento….beijos,

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  2. Delícia de texto! Eu amo quase todas as estações! kkkk! Aaaamo o frio do inverno, acho muito romântico e ainda quero passear na neve com a minha família. O verão é uma excelente época pra tirar férias na praia e o sol não deixa nada mofar (odeio mofo, minha casa mofa muito!!!), a primavera, nem se fala! Tudo lindo e colorido. Só o outono que eu acho meio tristinho…. seco e melancólico. Mas é como você escreveu: precisamos destas coisas para valorizar as outras. Muito prazer em tê-la como colega aqui. Grande abraço!

    Curtido por 1 pessoa

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